A EDP está a acelerar a descarbonização, rumo a uma produção 100% verde até 2030. As centrais térmicas de Espanha, Portugal e Brasil, que durante décadas foram essenciais para fornecer populações e indústrias, serão agora um elemento chave na transição energética.
No leito marinho de Albufeira, uma torre de metal serve de casa a peixes, corais e uma multiplicidade de outros organismos que dão vida a um novo recife, um novo ecossistema. O antigo moinho de carvão da Central Termoelétrica de Sines, parte da exposição subaquática EDP Art Reef, criada pelo artista Vhils em parceria com a EDP, é um pequeno exemplo de como as centrais a carvão do passado têm uma palavra importante a dizer no futuro da energia e do planeta.
É esse o caminho que está a ser traçado na EDP, que pretende não só eliminar o carvão até 2025 e tornar-se 100% renovável até 2030, como também tornar esses locais históricos de geração de energia em incubadoras de novas fontes, novos processos para assegurar a sustentabilidade e a transição energética plena. Porque escolhemos a Terra, onde havia carvão, haverá hidrogénio verde, solar fotovoltaico, mini-hídricas, baterias de armazenamento de energia e florestas, que transformam centrais térmicas de Portugal, Espanha e Brasil em hubs verdes nas suas regiões e países. Já em 2024, a EDP prevê que apenas 1% da sua produção de energia tenha origem no carvão.
Quatro centrais em Espanha - Soto de Ribera e Aboño, nas Astúrias; Puente Nuevo e Los Barrios, na Andaluzia; duas em Portugal - Sines, no distrito de Setúbal, e Carregado, no distrito de Lisboa; e parte da Central de Pecém, no Brasil, são eixos fundamentais deste processo de transformação e revitalização da produção de energia. Representam uma fatia importante dos 17 mil milhões de euros a investir pela EDP até 2026 no desenvolvimento de projetos de lançamento, expansão e consolidação de energias renováveis e redes. Tudo para garantir a transição energética, a flexibilidade dos sistemas elétricos e a estabilidade da rede, colocando o planeta em primeiro lugar.
Como se desativa uma central térmica?
O processo de encerramento e desativação de uma central é longo e criterioso. Inicia-se com o pedido às entidades reguladoras competentes, concluindo-se quando o terreno onde a central esteve instalada se encontra requalificado e disponível para novas utilizações.
- Descomissionamento. A retirada de produtos químicos, combustíveis, óleos, gases e todos os outros consumíveis da cadeia de produção que podem ser facilmente transportados. Esta fase pode ser antecedida ou acompanhada da retirada de pequenos equipamentos móveis, mobiliário, e materiais que possam ser reaproveitados noutros centros de produção da EDP ou mesmo noutras instalações industriais.
- Desmantelamento e demolição. O desmantelamento de equipamentos para reciclagem da sucata, desde maquinaria a tubagens e tanques. E a demolição cuidada de todas as estruturas ou daquelas que não poderão ser reaproveitadas, como chaminés, torres de refrigeração ou turbinas e geradores.
- Requalificação. Descontaminação e verificação ambiental de terrenos e outras estruturas, para que possam ser utilizados em segurança para novos fins, sejam industriais, de urbanização, de agricultura ou de renaturalização.
A desativação de uma central térmica é feita por equipas especializadas nas várias fases e pela equipa da central, quem verdadeiramente têm a experiência e conhecimentos profundos sobre o local, sobre as alterações feitas ao longo dos anos e sobre todas as condicionantes que possam existir.
E as comunidades que foram apoiadas e beneficiadas ao longo de décadas pelo funcionamento destas centrais térmicas - quer pelo desenvolvimento económico local e emprego, quer por iniciativas sociais, desportivas ou culturais apoiadas pela EDP -, são também parte importante do processo de transformação. Após o encerramento, a cedência de equipamentos resultantes do descomissionamento a entidades locais; a continuidade de programas comunitários - como é o caso do Entama, em Espanha, ou do Partilha com Energia e do Programa de Atribuição de Viaturas Usadas, em Portugal; e ainda a criação de projetos específicos de apoio ao encerramento - como o programa Futuro Ativo Sines -, fazem parte da estratégia global da EDP para uma transição energética justa, não deixando ninguém para trás.
Economia circular: garantir o valor que ainda existe numa central fechada
O fim de uma central alimentada por combustíveis fósseis, a bem do ambiente e da transição energética, não significa que tudo o que está associado a esse local e método de produção deve ser eliminado ou esquecido. Há muito valor numa central térmica desativada, muitas toneladas de resíduos e materiais que podem ser reaproveitados; muitos equipamentos com outras utilizações possíveis; muitas infraestruturas capazes de albergar inovações, indústrias e tecnologias pensadas para um futuro verde.
Graças à evolução das técnicas de reciclagem e reaproveitamento, e com o foco na economia circular - onde se enquadra a utilização dos materiais para o EDP Art Reef, por exemplo - a EDP pretende atingir até 90% de reciclagem ao longo de toda a cadeia de valor da energia. E a desativação das centrais térmicas está na linha da frente desse percurso de circularidade. Só na Central do Carregado, por exemplo, foi possível reciclar 92% das 100 mil toneladas de resíduos acumulados na fase de desmantelamento e demolição.
Nove centrais, nove histórias de sucesso rumo a um futuro sustentável
Entre os locais que já estão com um processo de desativação mais avançado, como Setúbal, Carregado, Tunes, Puente Nuevo e parte de Soto de Ribera, e aqueles que ainda prolongam o seu funcionamento até 2025 ou um pouco mais além - como o grupo 2 de Aboño, a converter a produção para gás natural, o grupo 3 de Soto de Ribera e a Central de Los Barrios - as centrais da EDP têm o caminho verde bem traçado. Um percurso que se ramifica pelas várias fontes de energia renovável que compõem o portefólio da EDP, apontado à hibridização, ao armazenamento de energia e à complementaridade como formas de garantir a solidez de cada projeto e de todo o sistema elétrico.
Um exemplo de requalificação ambiental
A Central Termoelétrica do Carregado, junto a Lisboa, foi inovadora ao longo de várias décadas até ser desligada em 2010. Dos 6 grupos de produção alimentados por fuelóleo desde 1969, o 5 e o 6 passaram em 1997 a utilizar gás natural também. Foi a primeira central em Portugal a mudar para esse combustível mais limpo.
Com todas as instalações atualmente já demolidas, a vasta área da antiga central continua o processo de requalificação dos terrenos. Parte deles já está em fase de estudo dos solos, podendo a partir daí ser utilizada para novos projetos. Antes disso, na demolição, foram reciclados 92% das cerca de 100 mil toneladas de resíduos existentes. E foram reaproveitados materiais para a vizinha Central de Ciclo Combinado do Ribatejo, para a hídrica de Belver e para a central de biomassa de Mortágua.
O apoio às comunidades locais já existia e continua bem vivo graças à Central Termoelétrica do Ribatejo. Da antiga unidade do Carregado saíram equipamentos de cozinha para uma instituição de Vila Nova da Rainha e outros para o Clube de Pessoal da EDP, que existe desde 1976.
Um hub para o hidrogénio verde em Portugal
Quando entrou em funcionamento, em 1985, a Central Termoelétrica de Sines era capaz de fornecer 15% da energia consumida em Portugal com dois grupos de produção, e subiu para um terço das necessidades ao crescer em 1987 para 4 unidades a carvão, num total de 1.256 MW de capacidade. O encerramento em 2021, dois anos antes do previsto, acelerou verdadeiramente o fim do carvão em Portugal na produção de energia.
A posição estratégica da central de Sines, junto a um importante porto marítimo atlântico, torna este local ímpar para a criação de novos projetos de energia verde, nomeadamente o hidrogénio. Já descomissionada, a central prepara-se para as primeiras fases de desmantelamento, seguindo-se a conversão num hub de H2. O projeto GreenH2Atlantic envolve a EDP e várias outras empresas do setor energético.
O fim das operações em Sines já permitiu reaproveitar equipamentos para centrais térmicas e hídricas em Portugal, Espanha e Brasil, e ainda para entidades externas. Ao todo são mais de 6.000 equipamentos, com um peso acima de 370 toneladas, a que se juntam peças metálicas usadas por Vhils no EDP Art Reef. Foram também vendidas 10 mil toneladas de resíduos de carvão para combustível e serão reaproveitadas 1,2 milhões de toneladas de escórias e cinzas na produção de cimento. A forte integração da EDP Geração nas comunidades locais permitiu ainda o apoio com materiais a 33 entidades e instituições.
A última central a fuelóleo
A Central Termoelétrica de Setúbal foi a mais importante de Portugal até ao arranque de Sines, chegando a abastecer 25% da população, e a última a funcionar a fuelóleo. Foi a primeira central de geração de energia elétrica em Portugal a ter o sistema de gestão ambiental certificado por uma entidade externa.
As operações em Setúbal encerraram em 2013, após 35 anos de atividade, e as duas chaminés com mais de 200 metros de altura que marcavam a paisagem foram derrubadas em 2020. Atualmente já está/foi totalmente demolida, abrindo-se diversas possibilidades para a utilização do espaço para novos projetos.
Tal como no Carregado, também nesta central foi possível reciclar quase a totalidade dos resíduos acumulados na fase de desmantelamento e demolição: 92,6% das 104 mil toneladas. Antes disso já tinha sido aproveitado equipamento, como material de combate a incêndios, que foi cedido às corporações de bombeiros e sapadores de Setúbal. Outros equipamentos de produção foram ainda reaproveitados para as centrais EDP de Sines, Ribatejo e Lares, e também para a Tejo Energia.
A par do Carregado, a Central Termoelétrica de Tunes, em Silves, foi a que esteve mais tempo em operação para a EDP, entre 1973 e 2014. Alimentada a gasóleo, garantiu energia para a região algarvia ao longo de 41 anos, tendo uma potência instalada de 165 MW na altura do encerramento.
Após a fase de desmantelamento e demolição da central, foram mantidos os edifícios administrativos e de oficinas para utilização futura, estando em curso a fase de estudo dos solos. A sua menor dimensão aliada ao facto de parte das estruturas terem permanecido levou a uma menor produção de resíduos no desmantelamento, cerca de 5 mil toneladas, com uma taxa de reciclagem de 57%.
Grande parte do equipamento pôde ser reaproveitado para nova utilização na central de Mortágua, e outro foi vendido a empresas externas, como os rotores das turbinas 1 e 2, e da excitatriz do grupo 3, peça de gerador que foi adquirida por uma empresa chilena para substituição. Aos bombeiros da região também foi cedido material de combate a incêndios.
A bateria verde das Astúrias
Com 3 grupos de produção a carvão e 2 de ciclo combinado, a Central Térmica de Soto de Ribera, junto a Oviedo, iniciou a operação em 1962. Mantém os três mais recentes em funcionamento, preparando-se para desativar o grupo 3, ainda a carvão, em 2025. Soto 1 já foi desativado e Soto 2 está na fase final de desmantelamento, preparando-se ambos para receber os primeiros projetos renováveis, muito focados no armazenamento de energia e na hibridização.
Na bateria verde das Astúrias, uma mini-hídrica e um parque fotovoltaico serão usados para fornecer energia à rede, mas também para armazená-la em baterias de lítio e numa combinação de baterias RedOX e outras de segunda vida, como as de veículos elétricos, além de testar o armazenamento através de ar líquido. Paralelamente, um eletrolisador de 5 MW vai produzir hidrogénio verde para abastecer viaturas e promover a descarbonização dos transportes, além de ser usado nos grupos de ciclo combinado, associado ao gás natural.
Alguns dos equipamentos antigos foram usados no projeto de Vhils, e outros mais recentes são reaproveitados para outros setores. Parte das instalações do grupo 3 vão permanecer, para acolher novos projetos. A cooperação local com o município de Ribera de Arriba vem de há mais de meio século e culminou em 2023 com a inauguração da Central Artística de Bueño, um grande projeto de dinamização cultural apoiado pela Fundação EDP.
Em resposta ao IRA dos EUA, o Canadá anunciou que irá permitir um ITC (crédito fiscal ao investimento) para o hidrogénio de 15 a 40% sobre o equipamento de produção de H2; espera atribuir um orçamento de 5,6 mil milhões de dólares canadianos nos próximos 5 anos e de 12,1 mil milhões entre 2028 e 2035; bem como estabelecer outras medidas de descarbonização que também apoiam o H2 (preço do CO2, regulamentação sobre combustíveis limpos).
O vale do hidrogénio verde das Astúrias
Às portas de Gijón, a Central Térmica de Aboño, com dois grupos de produção, foi essencial durante décadas para fornecer energia a toda a região. O grupo 1 prepara-se para ser desativado em 2025, permanecendo atualmente apenas como suporte, e o grupo 2 será convertido de carvão para gás natural. O vale do hidrogénio verde será um hub catalisador de vários projetos renováveis da EDP nas Astúrias.
A Central de Aboño vai receber um sistema de eletrolisadores com uma capacidade 150 MW, ampliáveis para 500 MW numa segunda fase, em 2030. Para a produção e armazenamento do hidrogénio verde, a alimentação dos eletrolisadores será feita apenas por fontes renováveis, nomeadamente através de novos projetos solares e eólicos na central e na região.
O hidrogénio verde poderá ainda ser usado em complemento a gases siderúrgicos que já são usados na central, substituindo gradualmente os combustíveis fósseis. A transformação da produção de energia garante ainda o aproveitamento de grande parte das estruturas e equipamentos de Aboño 2, assegurando a economia circular e a transição justa.
O sol da Andaluzia no horizonte
Foi em 2020 que encerrou o último dos 3 grupos de produção da central a carvão de Puente Nuevo, em Córdoba, que começou a produzir energia em 1966, junto a uma albufeira do rio Guadalquivir. Parte da central já foi desmantelada e começou a ser preparada para o futuro, incluindo a reflorestação de uma área de vários hectares com mais de 4.000 plantas autóctones.
O solar fotovoltaico é o principal foco para o futuro energético verde de Puente Nuevo, com a instalação de um parque solar terrestre de 300 MW e um projeto inovador de solar flutuante em albufeira, com 50 MW.
Após o encerramento dos primeiros grupos de produção, em 2012, foram enviados diversos equipamentos para utilização na central de Los Barrios, igualmente na Andaluzia. Principalmente tubagens de caldeira, conexões, bombas e válvulas, mas também 17 toneladas de bolas de metal para um moinho. O antigo aterro de cinzas foi selado, reflorestado e será monitorizado durante 30 anos.
Junto à baía de Algeciras, a Central de Los Barrios vai dar lugar ao novo vale do hidrogénio verde do Campo de Gibraltar, um projeto de 195 milhões de euros. O primeiro grupo de produção a carvão já está encerrado e o segundo está disponível apenas até 2025, altura em que são acelerados os novos projetos que ajudam à transição energética de toda a região de Cádiz.
Os dois eixos de atuação no domínio das energias renováveis passam principalmente pelo hidrogénio verde e pelo armazenamento de energia. À semelhança de Aboño, serão instalados eletrolisadores com uma capacidade de 130 MW em 2026, podendo ser aumentados para 500 MW em função da utilização regional, pelas indústrias e transportes, e das possibilidades de exportação via marítima. Quanto ao sistema de baterias de lítio para armazenamento de energia, deverá ter uma capacidade de 255 MW.
A desativação da Central de Los Barrios vai permitir reaproveitar diversos equipamentos e instalações, inclusive para os novos projetos. E a ligação com a comunidade local, com o mesmo nome, será sempre reforçada no âmbito de uma transição justa. Os projetos de hidrogénio verde do Campo de Gibraltar permitirão criar postos de trabalho e dinamizar a economia local com energia totalmente limpa.
Onde o hidrogénio verde já é uma realidade
A Central de Pecém, integrada no complexo termoelétrico com o mesmo nome, no estado brasileiro do Ceará, é outro dos locais de geração que apontam o caminho sustentável para a EDP no país e no mundo. Nessas instalações foi produzida, no final de 2022, a primeira molécula de hidrogénio verde da EDP, essencial para a estratégia global de transição energética.
Em operação desde 2012, a central a carvão de 720 MW foi vendida em 2023 a um grupo de investidores brasileiros. O futuro passará pela transição da produção para outras fontes de combustível, onde se pode inserir o hidrogénio verde, assegurando ainda mais energia limpa na região. O Nordeste já se destaca largamente nas renováveis, concentrando 82% da capacidade nacional instalada de energia solar e eólica.
A EDP mantém a gestão do projeto de Pecém H2V, que começou como um projeto-piloto com uma capacidade de 1,25 MW, num investimento de 7,5 milhões de euros. O módulo eletrolisador de hidrogénio é alimentado por um parque fotovoltaico de 3 MW. Além do grande complexo industrial local, Pecém dispõe de um porto marítimo que, ao invés de receber carvão, poderá vir a escoar hidrogénio verde para descarbonizar outras regiões e países.