25 Fev 2022
7 min

Os países do norte e centro da Europa são os melhor posicionados para responder ao desafio da neutralidade carbónica até 2050. Já a China e os EUA, com a Índia logo atrás, lideram a lista dos países que mais CO2 emitem. 

E se lhe dissermos que o país ideal para viver é a Dinamarca? Não se pense que é apenas por ter sido eleito o segundo país mais feliz do mundo pela ONU e por ter posto a palavra hygge na boca de todos - um conceito que dizem explicar o segredo da sua felicidade e que se situa entre o bem-estar e uma situação confortável e livre. A Dinamarca também é um ótimo país para se viver porque ocupa o primeiro lugar do Environmental Performance Index (Índice do Desempenho Ambiental).  

Este índice, desenvolvido e apresentado pelas universidades norte-americanas de Yale e Columbia, resulta do diagnóstico ambiental feito a 180 países, através de 11 categorias e 32 indicadores. Nele, são avaliados, não só as emissões de gases de efeito de estufa, mas um leque abrangente de indicadores que vai desde o tratamento de resíduos até à biodiversidade. 

A hegemonia europeia 

José Campos Costa, responsável pela área de Comunidades Energeticamente Positivas do EDP New, refere que “o nosso país aparece em 27.º lugar, muito devido à pesca, à agricultura e aos serviços dos ecossistemas. Uma nota média comparativamente aos seus congéneres europeus, ficando visível que ainda há muito para fazer em território nacional no caminho para a neutralidade carbónica (linkar para artigo Descarbonização em Portugal).  

Continuando pelo ranking de países menos poluentes, encontramos no 2.º e 3.º lugares o Luxemburgo e a Suíça, respetivamente, com a curiosidade de que todos os lugares cimeiros até à 11.ª posição são ocupados por países europeus, como o Reino Unido, a França, a Áustria, a Finlândia e a Suécia. Em 12.º lugar surge o Japão, um dos poucos países do continente asiático com boa reputação ambiental, só se encontrando a China no 120.º lugar “É um país, como se sabe, muito afetado pela poluição do ar, resultante da indústria pesada e dos transportes. Embora o mercado de veículos elétricos esteja a crescer muito, e vai ser determinante para que consiga alcançar a neutralidade carbónica a que se comprometeu”, explica José Campos Costa. 

 

Pode falar-se em smartcountries? 

Embora exista este índice que indica os países que são mais ou menos smart, não se pode dizer que algum país esteja verdadeiramente perto de alcançar a descarbonização. Aqui, temos de olhar para o particular e não para o geral. Pode sim, falar-se em cidades e comunidades inteligentes, das quais o português POCITYF é um dos porta-estandartes nacionais, com a execução do EDP NEW. Está enquadrado nos projetos H2020, fundo comunitário que financiou 18 iniciativas de 2015 a 2020, em que se destacam ainda a Holanda e a Finlândia, com seis e quatro cidades-farol de energia positiva, respetivamente. 

De acordo com José Campos Costa, estes projetos podem levar a resultados muito interessantes, mas do ponto de vista da descarbonização total de um país ainda não são muito relevantes. Sem esquecer, o importante papel da centralização e da ação subsidiária dos governos ou organizações, para que respondam aos desafios que se imponham localmente, sobretudo a nível de tecnologia. “O impacto mais importante destas cidades inteligentes, é toda a inovação que se leva para essas regiões, como o aumento das energias renováveis, a adoção de veículos elétricos, a redução do consumo elétrico através da eficiência energética, o aumento da capacidade de baterias destas cidades farol. Serão estas as zonas de demonstração, que farão com que depois a inovação se alastre e, aí sim, já podemos começar a falar de uma descarbonização mais global”. 

Países menos poluentes

Que países poluem mais?  

Os processos de descarbonização não são fáceis e muitos países têm ainda um longo caminho a percorrer. De acordo com dados do Global Carbon Atlas - plataforma científica que fornece o panorama geral das emissões de dióxido carbono pelo mundo -, não é difícil chegar ao top 3 de países que mais emitem CO2 para a atmosfera. A China, muito pela sua dimensão e população, lidera o ranking dos mais poluentes, com 10.175 Mt CO2 (tonelada métrica de dióxido carbono, medida padrão para quantificar as emissões de CO2), seguida pelos Estados Unidos, com 5.285 Mt CO2 - e que lidera nas emissões per capita -, e pela Índia, com 2.616 Mt CO2. 

Não será uma grande surpresa ver estes países na liderança. Afinal, ainda são nações muito dependentes dos combustíveis fósseis, por um motivo ou por outro. A China, para manter os preços energéticos acessíveis e competitivos; os Estados Unidos para fugir à dependência de outros mercados internacionais e devido à política energética seguida por Donald Trump até 2020, sendo que com Joe Biden os compromissos ambientais voltaram à agenda política; e a Índia, como país emergente, para expandir o acesso à energia. 

Espera-se agora que a China - que já assumiu o compromisso de conseguir a neutralidade carbónica em 2060 - e os Estados Unidos sigam o exemplo da Europa em geral, que tem demonstrado uma vontade férrea em cumprir a sua parte no Acordo de Paris. “Sendo a China um player tão grande e importante na Ásia, é provável que, se começar a dar o exemplo na descarbonização, provavelmente vai fazer com que os seus congéneres asiáticos também o façam, como o Japão e a Coreia do Sul. Além de poder vir a ter um importante papel num mercado de renováveis mais competitivo, com melhores preços na tecnologia solar e do armazenamento”, conclui José Campos Costa. 

Países mais poluentes

Qual é o diagnóstico ambiental para Portugal? 

Portugal não passa de um “Suficiente” nesta mesma avaliação, que faz o diagnóstico ambiental a 180 países. José Campos Costa, responsável pela área de Comunidades Energeticamente Positivas do EDP New, refere que “ainda há muito para fazer em Portugal, mas também não nos podemos esquecer de que ao nível da integração das energias renováveis (linkar para artigo das renováveis) estamos a fazer um bom trabalho, contínuo, somos até pioneiros com o projeto WindFloat, da EDP, a nível da eólica offshore”. Resumindo: em termos energéticos, Portugal tem um dos programas mais ambiciosos a nível mundial, com vista à neutralidade carbónica; mas ainda há muito a fazer em termos ambientais. 

José Campos Costa destaca que Portugal tem má nota na mobilidade, que deve representar cerca de 25% da emissão de gases de efeito de estufa, e no setor dos edifícios. “Há que eletrificar mais a mobilidade, haver mais mobilidade partilhada e também intermodal. Depois, os edifícios, responsáveis por 35% de emissão de CO2, ainda estão pior classificados no campo da eficiência energética”, detalha José Campos Costa. Lembra que “dois terços do nosso parque habitacional foi construído na década de 1990, precisamente a década em que se começaram a introduzir os requisitos mais ambiciosos quanto ao desempenho energético dos mesmos”. 

De qualquer forma, Portugal em geral e a EDP em particular, têm feito um caminho exemplar. “A EDP já se comprometeu a fechar todas as suas centrais a carvão, que são aquelas que mais emissões geram por unidade de energia produzida. Já o fizemos em Sines, onde estava a maior central a carvão do grupo, estamos a fazê-lo em Espanha e vamos fazê-lo no Brasil, até 2025. Portanto, vão restar apenas em Portugal e em Espanha algumas centrais a gás natural, que irão funcionar em regime de backup. Em 2030, toda a produção da EDP será de origem renovável e nesse ano seremos neutros em carbono – é este o compromisso público assumido pela EDP”, afirma Pedro Paes. 

Alinhado com a estratégia da União Europeia e com uma meta bastante ambiciosa para redução dos gases de efeito de estufa, Portugal “tem sido um exemplo para esses países mais poluentes”, atesta Pedro Paes.