A importância das grandes empresas para a mitigação
Com a chegada da COP27 no Egito, o mundo novamente traz uma atenção sobre a necessidade de propomos ações emergências para combater os impactos negativos relacionados à mudança do clima. E numa ordem prioritária estão as medidas de mitigação. A mensagem é clara. Precisamos cortar as emissões de gases de efeito estufa num curto espaço de tempo.
A realidade traz uma provocação. Nunca se investiu tanto em energia renovável, porém nunca estivemos tão distantes do Acordo de Paris. O Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas – IPCC, lançou no início de 2022 o sexto relatório destacando que as emissões globais médias de gases de efeito estufa atingiram os níveis mais altos da história.
Os recentes conflitos geopolíticos, a alta inflação global, e a tendência de aumento do custo de energia trazem a sensação de que a luz no final do túnel ficou mais distante.
Há um consenso – problemas estruturantes de décadas não serão resolvidos em meses. A COP27 traz uma expectativa de que será necessário um pragmatismo visionário para acelerar a descarbonização na recessão. Governos tem encorajado ações de mitigação enquanto a indústria de forma geral tem direcionado mais esforços para adaptação.
A boa notícia é que o número de empresas que aderem a iniciativa Science Based Targets (metas baseadas na ciência) tem aumentado ano após ano. Isso significa uma expectativa de grandes reduções de emissões de gases de efeitos estufa nas próximas duas décadas. Segundo a Bain Company em 2018 mais 140 empresas haviam aderido a iniciativa. Em setembro de 2022 o número já passa de 3700.
Os compromissos das grandes corporações são importantes já que elas possuem uma capacidade maior de inovação, acesso ao capital financeiro, e principalmente, são as grandes responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa. Mas atribuir as soluções às companhias pode ser um equívoco."
Dominic Schmal
ESG Director na EDP Brasil
Os compromissos das grandes corporações são importantes já que elas possuem uma capacidade maior de inovação, acesso ao capital financeiro, e principalmente, são as grandes responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa. Mas atribuir as soluções às companhias pode ser um equívoco.
Há uma necessidade de uma intervenção da política global, onde países já vem trazendo mais ousadia para a mesa, tornando a transição de carbono uma fonte de vantagem competitiva, em vez de arriscar perder o negócio verde para outro país. É o que aconteceu recentemente nos Estados Unidos que criou o projeto de lei “Inflation Reduction Act of 2022 “que destina US$ 369 bilhões para apoiar a transição energética do país.
A COP27, em específico, também trará à tona outras reflexões que vão além necessidade de mitigação e adaptação climática por meio de novas tecnologias de baixo carbono - os efeitos socioeconômicos sobre as consequências das alterações climáticas.
Segundo dados da Agência das Nações Unidas para Refugiados, mais de 20 milhões de pessoas são obrigadas a deixar suas casas todos os anos em decorrência de desastres provocados pelas mudanças climáticas. Esses deslocamentos são quase o dobro dos causados por conflitos e violência.
O Egito, pais sede da Conferência, está passando por uma crise política e social. Muitos países, principalmente aqueles mais ameaçados pela emergência climática, enxergam essa Conferência como uma grande oportunidade de passar uma mensagem mais dura para os países ricos no que tange o financiamento climático. A COP27 será uma oportunidade para o continente africano chamar a atenção sobre a justiça climática no centro das discussões sobre as ações globais do clima.