“A nossa capacidade de adaptação e crescimento neste complicado contexto não é um acaso. É uma prova da resiliência do nosso negócio, construído ao longo de vários anos, transformando a EDP de uma utility portuguesa para uma líder global da transição energética."
Miguel Stilwell d'Andrade
Presidente do Conselho de Administração Executiva
Caro Acionista,
Não há dúvida de que 2020 foi um ano atípico para o mundo e todos tivemos de nos adaptar a uma realidade diferente. Assim, gostaria de agradecer a todos os nossos stakeholders, começando pelas nossas equipas e pelos nossos fornecedores, pela forma como souberam superar os desafios impostos pela pandemia e como continuaram a honrar os compromissos que a EDP assumiu. Uma palavra também aos nossos clientes e aos parceiros pela manutenção e reforço da confiança na EDP, bem como aos nossos acionistas, pelo apoio sempre demonstrado. A nossa capacidade de adaptação e crescimento neste contexto complicado não é um acaso. É uma prova da resiliência do nosso negócio, construído ao longo de vários anos e que permitiu que a EDP evoluísse de uma utility portuguesa para uma líder global da transição energética.
Uma recuperação económica verde
Embora a pandemia tenha paralisado grande parte do mundo, também acelerou algumas das mudanças que já estavam em curso. Ao longo de 2020, países, indústrias e empresas continuaram a assumir novos compromissos rumo à descarbonização. União Europeia, China, Japão e Canadá foram apenas alguns de um número crescente de países que subscreveu acordos de neutralidade carbónica, comprometendo-se a descarbonizar as suas economias nas próximas décadas. Já o ano de 2021 começou com o regresso dos Estados Unidos ao Acordo de Paris e promete ser um ano decisivo para o clima, culminando, em Novembro próximo, com o encontro entre governos, organizações e sociedade civil na COP26. As iniciativas para reduzir as emissões estão também associadas à recuperação da economia global, fortemente impactada pela COVID-19. Em virtude do seu compromisso com a neutralidade carbónica até 2050, a União Europeia lançou o European Green Deal Investment Plan (EGDIP), para o qual serão mobilizados € 1 bilião com o intuito de financiar a transição para uma economia de baixo carbono entre 2021 e 2030. Se pretendemos limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC, teremos que, a nível global, crescer em energias renováveis, e até 2030, adicionar mais de 500 GW de capacidade por ano, o que representa uma oportunidade única para a EDP. A nossa experiência, as nossas competências operacionais e a competitividade da nossa base de custos, desenvolvida ao longo da última década, enquanto líderes em energias renováveis são demonstrativas do nosso bom posicionamento para continuar a desempenhar um papel de liderança no apoio ao atingimento das metas climáticas nas diversas geografias em que a EDP se encontra presente.
Em linha com o movimento global, também a EDP promoveu exigências relativamente às alterações climáticas.
Um plano estratégico ambicioso
O nosso plano estratégico para 2021-2025 divide-se em três eixos: Crescimento Acelerado e Sustentável; Organização preparada para o futuro, sustentada por um maior investimento em Inovação e Transformação Digital; e Retorno Atrativo e Excelência nos indicadores ESG (Environmental, Social and Governance).
Crescimento acelerado e sustentável
O plano estratégico representa um compromisso ambicioso no reforço da nossa posição enquanto líderes da transição enérgica, prevendo um investimento sem precedentes num total de € 24 mil milhões. Iremos acelerar o nosso crescimento em energias renováveis, nomeadamente na Europa e na América do Norte, com o objectivo de duplicar, nos próximos 5 anos, a nossa capacidade instalada em eólica e solar, adicionando 4 GW por ano. Continuaremos a crescer e a criar valor no nosso portfolio de redes de baixo risco em Portugal, em Espanha e no Brasil – um fator crítico da transição energética – investindo mais de € 3 mil milhões na modernização e na excelência operacional na distribuição e na execução de projetos de transmissão no Brasil. Por último, iremos investir cerca de € 900 milhões em soluções para Clientes, com um foco claro na eficiência e na transformação digital em conjunto com objetivos ambiciosos em novas áreas de crescimento, designadamente no solar distribuído onde prevemos, até 2025, ter dez vezes mais capacidade instalada.
Organização preparada para o futuro
Em 2020, fomos distinguidos como Top Employer e Empresa Familiarmente Responsável (EFR) e tivemos ainda o privilégio de ser incluídos, pela primeira vez, no Índice da Igualdade de Género da Bloomberg, reconhecimentos que destacam o investimento nas nossas pessoas e a nossa cultura inclusiva. Queremos continuar a ter uma organização global e flexível, suportada em equipas ágeis e resilientes. Vamos investir de forma significativa na inovação e na transformação digital do negócio, num total de € 2 mil milhões. Comprometemo-nos a continuar a capacitar e a unir esta equipa, apostando no talento e na diversidade, fundamentais para a nossa adaptação a um sector em profunda transformação.
Retorno atrativo e de excelência nos indicadores ESG
Reforçámos os compromissos para reduzir as nossas emissões e descarbonizar o nosso portfolio, com o objetivo de sermos uma empresa sem carvão até 2025 e 100% verde até 2030, antecipando em 20 anos as metas previamente definidas. Este posicionamento, verde e distintivo, permitir-nos-á continuar a liderar a transição energética com criação de valor superior para os nossos acionistas.
O nosso esforço de descarbonização está bem encaminhado. Em 2020, a EDP anunciou o encerramento da maior parte das suas centrais a carvão na Península Ibérica e, em Setembro, juntámo-nos à Powering Past Coal Alliance, a primeira aliança para a aceleração do termo da produção de energia a carvão. Fazemos também parte da Race to Zero, uma aliança criada entre a UN Global Compact, a Science Based Targets e a We Mean Business, que promove uma recuperação neutra em carbono, prevenindo ameaças futuras, criando empregos e possibilitando o crescimento sustentável. Por fim, o desenvolvimento sustentável tem sido e continuará a ser um dos eixos principais da nossa estratégia. Através de investimentos e de ações de responsabilidade social, a EDP continua a contribuir para 9 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. Demonstrámos ainda um claro compromisso com os 10 princípios da United Nations Global Compact, em linha com as melhores práticas em áreas como direitos humanos, trabalho e meio ambiente.
Uma capacidade de execução comprovada
A nossa estratégia para 2019-2022 estabeleceu um conjunto de projetos de desinvestimento que visaram a desalavancagem, a redução de risco e a cristalização de valor, com o objetivo transversal de potenciar o crescimento em energias renováveis e de aumentar o alinhamento com a transição energética. O plano incluiu um conjunto ambicioso de vendas, num total de mais de € 2 mil milhões, destinadas a promover a reconfiguração e otimização do portfolio ibérico. O sucesso da venda não só de seis centrais hidroelétricas em Portugal, mas também de duas CCGTs e da área de clientes B2C em Espanha, permitiu assegurar novas oportunidades de crescimento nas redes ibéricas. Adquirindo a Viesgo, operação parcialmente financiada por um aumento de capital de mil milhões de euros, a EDP mais do que duplicou a sua presença na distribuição de eletricidade em Espanha, reforçando o perfil de baixo risco da empresa, e aumentou em 0,5 GW a capacidade de energias renováveis na Península Ibérica. O nosso balanço foi ainda robustecido pela continuidade do programa de rotação de ativos, que permite à EDP reciclar capital e melhorar a rentabilidade dos projetos, ao desenvolver e, posteriormente, vender, a participação que detém em cada um destes. Em 2020, vendemos uma participação de 80% num conjunto de ativos de energia eólica e solar de 563 MW nos Estados Unidos da América e uma participação maioritária num portfolio de energia eólica onshore de 242 MW operacionais em Espanha.
Apesar dos desafios apresentados pela pandemia, a EDP conseguiu aumentar o seu resultado líquido recorrente em 6%, para € 901 milhões, suportado por uma presença global, um aumento da produção de energia renovável e um perfil de baixo risco. O trabalho árduo das nossas equipas permitiu-nos ainda atingir, em 2020, a maioria dos objetivos definidos para 2022, o que levou a uma valorização bolsista de 43%, superando as nossas congéneres europeias em 30 pontos percentuais. Este esforço foi feito ao mesmo tempo que mantínhamos elevados níveis de satisfação dos colaboradores e orgulho-me de referir que, em 2020, a EDP foi reconhecida, a nível mundial, na categoria de Pessoas & Práticas Organizacionais.
Um ano de inovação e expansão
Reconhecemos que, para permanecer na vanguarda do sector, devemos continuar a avaliar e a testar novas alternativas de produção de energia, investindo em tecnologias de geração limpa. Acreditamos no potencial de longo prazo que o hidrogénio pode ter no contexto da descarbonização e, recentemente, criámos uma nova unidade de negócio, a H2BU, que vem reforçar a integração do hidrogénio verde no nosso portfolio. Neste contexto, aderimos, em Maio passado, à iniciativa Choose Renewable Hydrogen que visa promover o compromisso da Europa com o hidrogénio verde gerado a partir da eletrólise de energias renováveis, em substituição dos combustíveis fósseis. Paralelamente, lançámos uma nova unidade para liderar e promover projetos de armazenamento que pretende atingir 1 GW de capacidade até 2026
Em 2020, assinalámos também o início do fornecimento de energia à rede portuguesa através do WindFloat Atlantic.
Este é o maior projeto eólico flutuante do mundo, com três turbinas de 8,4 MW – o suficiente para abastecer 60.000 casas. O sucesso desta iniciativa abrirá caminho para a instalação de parques eólicos flutuantes, economicamente viáveis e em grande escala, localizados em águas profundas, demonstrando como a nossa cultura de inovação viabiliza os nossos ambiciosos objetivos de crescimento. Ao longo de 2020, continuámos a expandir-nos por todo o mundo, seja diretamente seja através da nossa nova joint-venture, entre a EDPR e a Engie, a Ocean Winds – focada na geração de energia eólica offshore. Criada em Março, a Ocean Winds incorporou os pipelines eólicos marítimos de ambas as empresas com 1,5 GW em construção e mais 5 GW em desenvolvimento. Beneficiando da experiência e dos recursos de ambas as empresas mãe, a Ocean Winds ambiciona ter entre 5 a 7 GW em operação ou em construção, e mais 5 a 10 GW em estado de desenvolvimento avançado, até 2025.
Através do nosso negócio de comercialização de energia também demos alguns passos importantes na promoção da mobilidade elétrica, tanto a nível nacional como europeu. Para além de proporcionarmos mais e melhores opções de carregamento aos nossos clientes, a EDP é agora o parceiro energético, em regime de exclusividade, da Electric Vehicle Users Association, em Portugal. A empresa também se juntou à Charge Up Europe unindo esforços na promoção do desenvolvimento, a nível europeu, da rede de carregamento. Ambas as iniciativas são parte dos nossos esforços para permitir a transição energética, com a qual a empresa está profundamente comprometida.
Uma equipa para o futuro
Em Janeiro deste ano, os nossos acionistas elegeram um novo Conselho de Administração Executivo. Com o início deste novo ciclo, gostaria de agradecer a todos os membros do Conselho de Administração Executivo anterior, pela sua contribuição fundamental para o crescimento e posicionamento da EDP. Este novo Conselho, com uma grande experiência e expertise, irá certamente contribuir para continuar a fazer crescer a EDP. Estamos empenhados em cumprir a nossa estratégia para 2021-2025, garantindo o crescimento do Grupo e a criação de valor para todos os nossos stakeholders.
Uma palavra de especial agradecimento ao Conselho Geral e de Supervisão e à cooperação mais uma vez demonstrada num ano especialmente exigente para a EDP. O respeito institucional e a aplicação dos mecanismos de governance permitiram que a Sociedade prosseguisse o seu propósito e entregasse os objetivos a que se tinha proposto. Neste âmbito, gostaria ainda de reforçar o papel fundamental assumido pelos acionistas e a confiança depositada na EDP, nomeadamente no âmbito do aumento de capital ocorrido em Agosto de 2020. Como empresa, estamos a tomar medidas para proteger o futuro da humanidade e acreditamos que a nossa responsabilidade não se circunscreve apenas na adoção de ações concretas, mas também em sermos um exemplo para as demais empresas do setor.
Quero terminar com mais um agradecimento à equipa da EDP, aos 12.180 colaboradores que têm trabalhado incansavelmente para concretizar as nossas ambições. Num ano em que as nossas comunidades foram testadas e levadas ao limite, continuaram a demonstrar uma profunda dedicação, profissionalismo e resiliência. Tive o privilégio de fazer parte da evolução da EDP ao longo dos últimos 20 anos e é, para mim, uma honra liderar toda a equipa neste novo ciclo.