30 Out 2018
9 min

Um engenheiro eletrotécnico, um biólogo e uma engenheira química estão à porta de um bar... e na verdade estão apenas a aproveitar a hora de almoço, pois todos trabalham na EDP Labelec. A piada fica por aqui, mas não deixa de ser engraçada a presença de profissões tão diferentes do habitual em instalações da EDP. 

Por isso, fomos à descoberta deste laboratório, da autêntica "família" de profissionais Labelec e dos projetos inovadores que estão a desenvolver. 

labelec
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Num edifício alto, presente numa zona industrial dos arredores de Lisboa, na Labelec temos a presença de "improváveis" profissões. Pelos corredores, frescos e naturalmente iluminados, cruzam-se profissionais de bata branca com outros vestidos de maneira informal - o ambiente é descontraído e amistoso, todos dizem "bom dia" com um sorriso. 

Rui Martins, responsável pela área de Testes e Ensaios, uma das quatro áreas técnicas de intervenção na Labelec, confirma que o bom ambiente faz parte do ADN da empresa.

«A nossa atividade não é individualista, as pessoas estão num laboratório, fazem trabalhos em equipa... portanto, no dia a dia, acabam por conviver, (porque no fundo é uma atividade muito prática) e isso daí resulta que o ambiente seja bom, que as pessoas conversem, se cumprimentem e no fundo que se preocupem...»
Rui Martins, Responsável pela área de Testes e Ensaios, Labelec.

Além de caloroso, o ambiente é também muito tranquilo: pouco mais se ouve do que a ocasional porta a abrir ou a fechar. E, à medida que percorremos os corredores, percebemos que o silêncio é justificado, pois a maioria das pessoas está fora, a realizar trabalhos no terreno. As dezenas de geleiras, empilhadas ordenadamente junto de várias salas, confirmam-no: são utilizadas para transportar amostras recolhidas nos locais, de forma a proceder à sua análise laboratorial.

Os projetos desenvolvidos na Labelec servem clientes internos (EDP) e externos, mas estão geralmente relacionados, nem que de forma indireta, com o universo da eletricidade.

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A braços com a alta tensão

Além de inspecionar ativos da rede elétrica, por exemplo para a E-REDES e EDP Produção, a Labelec trabalha em proximidade com outras instâncias da EDP em diversas áreas. Mas no que toca à eletricidade pura e dura - mais especificamente, a alta tensão - a verdadeira “ação” decorre no Laboratório de Alta Tensão.

O Laboratório de Alta Tensão fica num edifício adjacente, e a correlação com a Rede Elétrica Nacional é óbvia: mal transpomos as suas portas, deparamo-nos com uma sala de comando com vista para um espaço gigantesco, semelhante a um hangar, onde se encontram as mais variadas, e enormes, ferramentas de teste.

Aqui, um dos objetivos é conseguir simular fenómenos que ocorrem na natureza, tais como as descargas atmosféricas, a chuva ou o nevoeiro, para perceber como os materiais se comportam e qual a sua resistência. Rui Martins explica que ali chegam, por exemplo, componentes de subestações elétricas ou grandes transformadores para serem avaliados.

Além disso, é também neste laboratório que é testado todo o tipo de ferramentas de trabalhos em tensão, obrigatório para os técnicos que trabalham nos piquetes da EDP Distribuição, entre outros. O teste das luvas de borracha para proteção contra o arco elétrico, por exemplo, implica submergir cada luva em água, sujeitando-a depois à tensão elétrica em alta tensão. Se resistir, o que significa que não perfurou nem apresentou indícios de fragilidade, o equipamento será então certificado e pode ser utilizado pelos profissionais no terreno.

Ainda no âmbito das atividades mais ligadas à eletricidade, a Labelec conta com inúmeros outros laboratórios, da inspeção de contadores aos ensaios com smartmeters ou aos testes a transformadores. E foi precisamente neste setor, dos transformadores, que encontrámos profissionais altamente especializados numa área de conhecimento pouco usual na EDP: a engenharia química.

O sangue dos transformadores

Anabela Peixoto é engenheira química e trabalha na Labelec há quase 30 anos, na área de Materiais Isolantes. Confessa que um dos desafios do laboratório é “falar para eletrotécnicos”, conforme explica: “os nossos clientes são as pessoas que têm a cargo os transformadores, mas nós, portas para dentro, somos químicos, fazemos análises químicas”.

E é realmente o caso: o laboratório de materiais isolantes dedica-se à análise de óleos isolantes, que existem dentro dos transformadores que encontramos ao longo de toda a rede elétrica. Os transformadores são constituídos por ferro, cobre e papel, imersos em óleo com características dielétricas (ou seja, isolantes) que permite que todos estes materiais interajam sem entrar em curto-circuito.

Um transformador de alta tensão, pelas suas dimensões, pode ter toneladas de óleo isolante. Com a passagem do tempo, e pelas mais variadas razões, o óleo pode degradar-se e perder as suas características dielétricas, o que pode prejudicar (ou até impossibilitar) o funcionamento do transformador. Em vez de substituir o óleo como antigamente (que implicava toneladas de desperdício e impacto ambiental), hoje em dia é possível regenerá-lo, devolvendo-lhe as suas características físico-químicas e dielétricas. E esse trabalho desenvolve-se na Labelec, no departamento de Materiais Isolantes.

As análises químicas realizadas ao óleo permitem, por um lado, perceber o estado de degradação do mesmo, mas também ajudam a identificar problemas do próprio transformador.

«Esta atividade tem grande semelhança com as análises ao sangue. Quando fazemos análises, queremos saber como é que está a nossa hemoglobina, os nossos glóbulos vermelhos…, mas queremos saber essencialmente como está a nossa saúde, e é essa a grande função das análises aos óleos isolantes dos transformadores. Dar-nos informação sobre o estado dos transformadores.»
Anabela Peixoto, Engenheira Química na Labelec, Gestora de área do departamento de Materiais Isolantes da área de Testes e Ensaios.

Muitas vezes os profissionais Labelec trabalham no terreno, com máquinas junto ao transformador em causa, o que pode revelar-se uma verdadeira aventura. Anabela relembra uma ocasião em que tiveram de regenerar o óleo de um transformador numa subestação subterrânea, no centro de Lisboa, implicando cortes no trânsito, a presença da polícia e ainda uma operação delicada para o posicionamento das máquinas num piso pouco resistente. Mas no fim «tudo acabou em beleza», nas palavras de Anabela, e são estas peripécias que trazem maior animação à atividade.

Um elevador para os peixes

O dispositivo da passagem de peixes da barragem de Touvedo, localizada no rio Lima, foi construído de forma a mitigar o impacto que a construção e exploração da barragem teve em algumas espécies de peixes. Tal como as escadas de peixes (que pode descobrir aqui), o elevador possibilita que várias espécies continuem a percorrer a sua rota habitual ao longo do rio, particularmente para as migrações reprodutoras.

O ascensor de peixes é constituído por um canal coletor, no lado jusante da barragem, com três entradas que são alimentadas por um caudal de atração. Os peixes entram e percorrem esse canal até uma cuba — um “recipiente” quadrangular, de cerca de 0,80 metro por 1m40, mas com a particularidade de ter água e uma quadrícula desenhada, que ajuda a determinar o tamanho dos peixes que lá entram. De 4 em 4 horas, a cuba sobe automaticamente até ao nível de montante, onde liberta os animais na albufeira do Touvedo.

Desta forma, alguns peixes entram de um lado da barragem e saem do outro, reduzindo o impacte criado pelo grande “fosso” que separa o rio. «É um funcionamento relativamente similar ao de um elevador como nós o conhecemos», conta João Pádua. Biólogo na Área de Ambiente, fala com voz pausada e tom sério sobre o seu trabalho na Labelec. Mas quando percebemos que a presença de um salmão com mais que 50cm no ascensor foi visto como o “clímax” do projeto, tal como o próprio o caracterizou, começámos a compreender o nível de paixão pelo trabalho aqui presente. E João acaba por confessar:  «Mais do que trabalho, a água é um elemento transversal em toda a minha vida pessoal e profissional, em todas as suas dimensões, portanto… é o que eu sou.»


O drone como ferramenta de trabalho

A paixão de João Pádua pelo meio aquático é comparável ao entusiasmo de André Coelho pelo meio aéreo, pois é esse o palco principal do projeto a que agora se dedica: a supervisão de ativos EDP com a ajuda de drones.

«A inspeção de ativos consiste num conjunto de operações que fazemos junto dos equipamentos da rede elétrica, para garantir o seu correto funcionamento e conseguir priorizar as ações de manutenção necessárias.»
André Coelho, Engenheiro Eletrotécnico na Labelec.

Trata-se, portanto, da inspeção do estado de linhas elétricas, subestações elétricas, módulos fotovoltaicos, turbinas eólicas ou até de barragens, portanto de equipamentos que constituem ativos da rede elétrica e da EDP.

A EDP utiliza drones para sobrevoar os ativos e captar informação sobre o seu estado desde cerca de 2015 (e pode saber tudo sobre este projeto aqui), pois até então as mesmas funções eram realizadas a bordo de um helicóptero.

Uma das vantagens do drone é o menor custo da operação e custo ambiental, uma vez que despende muito menos energia que um helicóptero. Por outro lado, existe também maior segurança e uma maior ligeireza nestas atividades, quando comparada com a inspeção feita num meio muito mais pesado e com muito maior impacto, como era o helicóptero.

Este era, aliás, um dos temas que preocupava a equipa de inspeção e que André Coelho recorda, entre risos. «Fizemos uma inspeção nos Açores, num ambiente onde existiam muitas vacas e, devido à experiência que tínhamos com o helicóptero, esse era um dos assuntos que mais nos preocupava, porque não queríamos causar transtorno aos animais. Mas a verdade é que as vacas nem sequer notaram a presença do drone e temos inclusivamente um conjunto de fotografias do drone junto às vacas ou seja, ele acaba por ser muito menos intrusivo na forma como opera do que o helicóptero.»

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“Aqui fabrica-se inovação!”

Inovar é palavra de ordem e ao passarmos pelo FabLab, a fábrica de inovação do Grupo EDP como se identifica, apercebemo-nos disso mesmo. Esta grande sala, repleta de “engenhocas” e tecnologia de ponta, ajuda-nos a compreender a essência da Labelec: cada experiência serve para levantar o véu a novos serviços e novas possibilidades. E o engenho da equipa está patente em cada criação: desde simples peças construídas em impressoras 3D, à montagem do primeiro drone utilizado pela equipa de inspeção de ativos.

Com cerca de 120 colaboradores em mais de 8 laboratórios distintos, a Labelec tem vindo a crescer ao ritmo de pelo menos um novo laboratório por ano. E o crescimento promete não ficar por aqui, tendo a curiosidade e espírito pioneiro dos profissionais como principal catalisador. O limite? Esse reside apenas na imaginação de cada um, já que a “família” Labelec se encarregará de a tornar realidade.

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