Investir no planeta para conseguir um melhor retorno
21 Set 2021
3 min

Finanças Sustentáveis

Parece um conceito difícil, remetido para a gestão superior das instituições financeiras e para os conselhos de administração das empresas. Na verdade, as Finanças Sustentáveis têm influência em toda a nossa vida, e todos nós temos também um papel que podemos desempenhar na sua garantia, enquanto eixo prioritário de reforço da sustentabilidade do planeta.

Tendo o desenvolvimento social, económico e ambiental, como pano de fundo, as Finanças Sustentáveis são todos os serviços, produtos e decisões financeiras que integram critérios de sustentabilidade na sua definição ou execução. São uma ferramenta indispensável para assegurar as necessidades globais de inovação ou de melhoria de infraestruturas, ao mesmo tempo que promovem uma utilização eficiente dos recursos, minimizam os impactos negativos no ambiente e contribuem para a estabilidade dos mercados financeiros. Atualmente, já existem produtos de Finanças Sustentáveis em entidades bancárias e financeiras consideradas tradicionais, mas também existem várias startups dedicadas a este tipo de investimentos, que podem variar entre fundos de investimento, títulos e obrigações, um pouco como outros investimentos mais clássicos. A diferença é que estes são movidos não apenas pela intenção de obter um bom retorno, mas também por fazer a diferença no mundo que nos rodeia.

Segundo a Organização das Nações Unidas - que definiu em 2015 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 -, as necessidades de financiamento para cumprir essas metas “vão ultrapassar largamente os fluxos financeiros atuais, mas podem ser conseguidas através dos grandes recursos de investimento disponíveis”. Pelo facto de o financiamento e o investimento serem transversais aos vários ODS, a ONU inscreveu as Finanças Sustentáveis no 17.º e último, ‘Parcerias para a Implementação dos Objetivos’. Por outro lado, se são importantes as ações dos países e empresas na prossecução do investimento na sustentabilidade, não é menos crucial o apoio aos países e regiões onde as dificuldades financeiras servem de barreira ao desenvolvimento sustentável.

ESG como fatores de mudança

É uma expressão cada vez mais presente no dia-a-dia dos negócios. Ambiental, Social e Governação (ESG na sigla inglesa, Environmental, Socialand Governance) são os fatores que melhor definem hoje as práticas financeiras sustentáveis. E apesar de a preocupação tanto com as questões sociais como com o meio ambiente já ter várias décadas - em 1977, por exemplo, os Sullivan Principles focaram-se na pressão ao regime da África do Sul pela via das empresas - só em 2006 é que o termo ESG surgiu pela primeira vez, num relatório da ONU sobre Princípios para o Investimento Sustentável. Esse documento deu origem a uma rede internacional de investidores e gestores de ativos e tem vindo a ser adaptado e reforçado, com documentos e orientações específicas para várias áreas.

infografia factores esg
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A integração dos fatores ESG é cada vez mais uma necessidade em termos de regulação europeia e mundial, mas também um objetivo que muitas empresas e instituições procuram voluntariamente atingir. Em Portugal, a associação empresarial BCSD (Business Council for Sustainable Development) criou um grupo de trabalho, do qual a EDP faz parte, dedicado especificamente às Finanças Sustentáveis. Uma das suas missões recentes foi acompanhar a entrada em vigor na Europa, em julho de 2021, das novas medidas para esta área, apoiadas pela Comissão Europeia:

  • Estratégia de Finanças Sustentáveis. Focada nas alterações climáticas, em linha com o Acordo Verde Europeu e com a necessidade de apostar na sustentabilidade como ajuda à recuperação económica, após a pandemia de Covid-19;
  • Uniformização Europeia de Títulos Verdes. Definição de regras, alinhadas com a Taxonomia da União Europeia, e reforço da transparência, para eliminar o greenwashing e garantir uma escalada positiva no mercado europeu dos títulos verdes;
  • Taxonomia da UE para Finanças Sustentáveis. Obrigatoriedade de informação clara e exaustiva sobre a performance ambiental das suas atividades, por parte de empresas financeiras e não financeiras, com o conteúdo, a metodologia e a apresentação da informação a serem especificados pela União Europeia.

Combater o greeenwashing, garantir compromissos sérios

O último Europeu de futebol ficou marcado pela recusa de jogadores, como Cristiano Ronaldo, terem à sua frente refrigerantes nas conferências de imprensa, numa tentativa de afastar a associação de bebidas pouco saudáveis à prática desportiva. Essa é um pouco também a preocupação de muitas entidades relativamente ao ambiente, tema ‘da moda’, que muitas vezes serve de cobertura a pouco mais do que estratégias de marketing. O greenwashing é como que os produtos light no que às finanças das empresas diz respeito, sendo objetivo global assegurar a real eficácia dos investimentos.

Segundo um artigo do Fórum Económico Mundial, os fundos de investimento associados à integração de fatores ESG já valem 43 biliões de euros em todo o mundo, o equivalente a quase 60% do PIB global e duas vezes e meia o PIB dos Estados Unidos. E refere ainda que surgem uma média de dois novos fundos de investimento deste tipo por dia. No entanto, avaliar as reais intenções e impactos de todos estes fundos em termos de sustentabilidade é difícil, estando os investimentos muitas vezes associados a meras estratégias de redução de custos e melhorias ténues de eficiência energética. É neste aspeto que a definição de novas métricas, regras de transparência e compromissos sérios com o ambiente e com as populações ganha ainda mais importância.

Existem várias empresas e índices que se focam na avaliação dos fatores ESG. O primeiro índice de sustentabilidade, o Dow Jones Sustainability Index (DJSI), é mesmo anterior à utilização comum da sigla, tendo aparecido em 1999. Em 2021, o DJSI já avalia 5.000 empresas de todo o mundo, muito além do número de cotadas no índice bolsista norte-americano. Sustainalytics ESG Risk Ratings, Bloomberg ESG Data Services, Thomson Reuters ESG Scores e RepRisk são outros exemplos de entidades que analisam dezenas de milhares de empresas.

ranting esg
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Finanças Sustentáveis: O poder do investimento

A aposta na sustentabilidade por parte das empresas, instituições financeiras e governos tem crescido exponencialmente nos últimos anos, respondendo aos desafios da sociedade e aos alertas da comunidade científica, relacionados com os efeitos, alguns irreversíveis, das alterações climáticas. Investimento verde e títulos ou obrigações verdes funcionam tanto como ações concretas de mudança - de procura da eficiência energética, da poupança de recursos e da redução de emissões de carbono - como são sinais claros de atração para os mercados internacionais. Paralelamente, a sociedade civil também se mexe e cria iniciativas que acabam por antecipar a mudança do rumo dos investimentos públicos e privados.

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Triagem como meio de escolha

Os princípios e valores éticos também pesam na altura de um cidadão ou uma empresa fazer investimentos, mais ainda quando o objetivo é o desenvolvimento sustentável. Se a publicidade e os patrocínios obrigam a regras cada vez mais apertadas - veja-se o exemplo das bebidas alcoólicas ou do tabaco em competições desportivas - os próprios fundos de investimento, e os seus utilizadores, estão atentos a esses fatores.

A Triagem Positiva privilegia aqueles que são caracterizados por apostas sustentáveis, em linha com a integração de ESG - e dando especial atenção aos ratings internacionais na composição de uma carteira de investimentos. Já a Triagem Negativa olha para o que está por detrás e retira de uma carteira já existente as empresas e sectores que estejam associados a impactos negativos a nível ambiental e social, e despreocupação com a sustentabilidade em termos gerais.

Garantir a sustentabilidade do planeta, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e com as metas do Acordo de Paris, requer empresas e sistemas financeiros sólidos, resilientes e interventivos nestas matérias. Ter Finanças Sustentáveis num mundo em transição económica, energética e digital é fundamental para o desenvolvimento de toda a sociedade.

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