A importância do hidrogénio para um desenvolvimento económico mais sustentável dá o mote a novos projetos e alianças nacionais e entre países em todos os continentes. Seja em aplicações concretas para indústria e transportes ou na investigação e desenvolvimento de novas soluções, o H2 já é um dos motores de mudança na Europa e no mundo.
A União Europeia como um todo e vários países a nível individual, como Portugal, apresentaram recentemente estratégias para o H2. E a Aliança Europeia para o Hidrogénio Limpo - que junta mais de mil empresas (entre as quais a EDP), associações, centros de investigação e outras entidades públicas e privadas - espera um investimento europeu de todas as partes envolvidas superior a 430 mil milhões de euros até 2030.
A Estratégia para o Hidrogénio, da Comissão Europeia, prevê o apoio à instalação de eletrolisadores com potência total de 6 GW até 2024 e a produção de um milhão de toneladas de hidrogénio verde. Ainda longe de poder alimentar uma boa fatia das necessidades mundiais de H2, que se situam atualmente nas 70 milhões de toneladas por ano, principalmente para as indústrias petrolífera e química.
Mas de 2025 a 2030 já são esperados 40 GW de potência instalada e 10 milhões de toneladas de H2 verde produzidas, com a evolução dos anos seguintes a ser cada vez maior. A década de 2030 marcará o enfoque desta estratégia nos setores mais difíceis de descarbonizar, bem como uma alimentação cada vez maior de outras necessidades de hidrgénio que se espera virem a crescer, como os transportes.
A EDP, enquanto líder nas energias renováveis, reforçou o seu compromisso com a descarbonização ao lançar duas unidades que irão explorar o potencial do hidrogénio verde e sistemas de armazenamento de energia, em Portugal e no mundo. A recém-criada unidade de negócios H2BU - H2 Business Unit, liderada por Ana Quelhas, será o novo braço do Grupo para o desenvolvimento de projetos de hidrogénio verde, enquanto a unidade dedicada ao armazenamento, constituída na EDPR NA, terá como objetivo atingir uma capacidade de 1 GW em armazenamento em cinco anos.
Covid-19: Mais expetativas para o H2 verde
No seu relatório de 2020, a Agência Internacional de Energia (IEA) traça um perfil um pouco conservador das perspetivas globais de crescimento do hidrogénio. A IEA mostra-se preocupada com o efeito da pandemia de Covid-19 nas economias, que levou a uma verdadeira paragem em setores estratégicos como a aviação, o turismo ou o comércio. Além disso, a agência já estava a notar uma estagnação no investimento global no H2 de baixas emissões.
No entanto, a mesma entidade vê o caminho aberto para o hidrogénio verde, sem emissões. O relatório da IEA destaca que estava a crescer o número de projetos à base de eletrolisadores, e que essa expansão deve continuar.
Além da União Europeia, há vários outros países que já estavam e continuam muito focados no hidrogénio. A IEA destaca os bons exemplos do Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Canadá Alemanha, França, Holanda, Austrália ou China. Vários destes países têm objetivos específicos bem definidos para os próximos anos:
- Japão - 5,3 milhões de micro unidades domésticas de produção de energia a hidrogénio (CHP) vendidas até 2030; bem como a produção e distribuição de 300 mil toneladas de H2 por ano. Na mobilidade, o Japão espera ter 200 mil veículos ligeiros a células de hidrogénio em 2025 e 800 mil em 2030, ano em que os autocarros serão 1200 e os empilhadores 10 mil. Isto sem esquecer as estações de abastecimento de H2: 320 em 2025 e 900 em 2030.
- Coreia do Sul - 1,5GW de capacidade de produção elétrica instalada em 2022 e 15GW em 2040 (dos quais 7GW serão para exportação e 8GW para uso interno); 50MW de CHP a ser usados em 2022 e 2,1GW em 2040; produção de 470 mil toneladas de H2 em 2022, 5,26 milhões de toneladas em 2040. Na mobilidade, a estratégia coreana para 2040 passa por ter 80 mil táxis a H2, 4.000 autocarros, 3.000 camiões e 81 mil veículos ligeiros, tudo alimentado por 1.200 estações de serviço com hidrogénio, 320 já em 2022.
- França - 10% de hidrogénio verde no total consumido pela indústria em 2023, que sobe para 20%-40% em 2028. Ainda 5.000 automóveis a H2 e 200 camiões em 2023, que deverão crescer para 20 mil a 50 mil carros e 800 a 2.000 camiões em 2028; e 400 a 1000 estações de reabastecimento de hidrogénio em 2028, 100 delas já em 2023.
- Holanda - Eletrolisadores com uma capacidade acumulada entre 500MW a 800MW em 2025, subindo para 3GW a 4GW em 2030. 15.000 automóveis, 3.000 veículos pesados e 50 estações com H2 em 2025, com um salto para 300 mil veículos a hidrogénio nos cinco anos seguintes.
partilha de conhecimento
O papel do hidrogénio no setor energético
O hidrogénio verde , sem emissões poluentes associadas à sua utilização nem à sua produção, é uma das últimas etapas de uma jornada científica e tecnológica com cinco séculos. E é uma aposta segura rumo às metas globais de eficiência energética e neutralidade carbónica.
Metas ambiciosas de H2 também em Portugal
O relatório da Agência Internacional de Energia não refere Portugal, mas as metas lusas também são bastante ambiciosas. Segundo o site da FCH-JU - uma iniciativa internacional público-privada europeia para promover o hidrogénio e as pilhas de combustível -, só a criação de emprego em Portugal para este setor está estimada entre 2.500 a 18.450 postos de trabalho até 2030.
O plano português apresenta dois cenários, sendo as metas bastante ambiciosas nas estimativas mais otimistas:
- 770 eletrolisadores em 2030, com uma potência de 7,45GWh
- 3,64GWh injetados na indústria
- 900 GWh usados na produção de 2,83GWh de eletricidade
- 109.400 veículos ligeiros a hidrogénio (54.700 no pior cenário)
- 350 autocarros, 830 camiões e 5 comboios movidos a H2
- 196 estações de serviço com fornecimento de hidrogénio (100 no pior cenário)
- 1,8 milhões de toneladas de emissões poluentes evitadas
António Vidigal, da EDP Inovação, acredita que Portugal tem as condições necessárias para ser um grande player. Não só pelo potencial de energias renováveis do país, mas também pela capacidade tecnológica. “O hidrogénio representa uma grande oportunidade para desenvolver know-how em Portugal”, afirma o responsável, lembrando que “começam já a aparecer empresas a conseguir exportar tecnologia desenvolvida no nosso país. Nesse sentido é uma grande oportunidade”.
O dilema internacional das cores do hidrogénio
É indiscutível a aposta internacional cada vez maior no hidrogénio. No entanto, apesar da multiplicidade de associações e parcerias que existem em todo o mundo, a questão das cores também tem impacto nas diferentes decisões. Se alguns países - como o Japão, a Holanda ou Portugal -, apostam essencialmente no hidrogénio verde, outros estão ainda muito focados na transição do hidrogénio cinzento para o azul, mais preocupados em controlar as emissões poluentes do que em impedi-las. Mas para um futuro verdadeiramente sustentável, o caminho deverá ser sempre verde.