13 Maio 2023
9 min

Acelerador da transição energética

Os sistemas de energia híbrida, que injetam na rede eletricidade gerada a partir de duas ou mais fontes, são cada vez mais uma realidade incontornável. A EDP começou a desbravar este caminho há cerca de cinco anos, tendo, no ano passado, inaugurado o maior projeto solar flutuante da Europa, no Alqueva. Este ano, no Sabugal, entrou em operação o primeiro parque eólico e solar da Península Ibérica.

O primeiro parque híbrido da Península Ibérica, constituído pela central solar fotovoltaica Mina de Orgueirel, instalada junto ao Parque Eólico de Mosteiro, a poucos quilómetros do centro do Sabugal, no distrito da Guarda, irá fornecer energia renovável a mais de 30 mil pessoas.

“Colocar em operação o primeiro parque híbrido da EDPR é um reflexo do nosso carácter pioneiro e inovador, bem como do firme compromisso com a transição energética das nossas principais geografias”, sublinha Duarte Bello, COO da EDP Renováveis para a Europa e América Latina. “Através desta hibridização, aumentamos a produção elétrica da região e minimizamos o impacto de novos projetos renováveis, através do uso de infraestruturas existentes”.

“Estamos ativamente a desenvolver projetos, olhando não só as oportunidades que temos de hibridização dos nossos parques eólicos, mas também com a colaboração da EDP Geração, no sentido de hibridizar as centrais hidroelétricas e até mesmo as centrais de ciclo combinado”, revela Hugo Costa, EDPR Country Manager Portugal. “Temos, atualmente, cerca de 350 MW em estado avançado de desenvolvimento e cerca de mais 1.000 a 1.500 MW de outras oportunidades pensando num horizonte temporal de sete a dez anos para o seu desenvolvimento”.

A EDP, que planeia investir 25 mil milhões de euros em projetos de transição energética, tem entre as suas prioridades a hibridização. Neste momento estão já a ser desenvolvidos mais de 1.600 MW em projetos híbridos em Portugal e Espanha nestas tecnologias, com diferentes fases de maturidade e com previsão de entrada em operação ao longo dos próximos anos.

Visita ao primeiro parque híbrido eólico/solar da EDP

Foi na cidade raiana do Sabugal, contornada pelo rio Côa, que a EDP Renováveis (EDPR) inaugurou o seu primeiro projeto híbrido da Península Ibérica que combina energia eólica e solar.

Da estrada nacional 233, que liga o Sabugal à Guarda, só se conseguem ver serras de um lado e de outro. Numa delas vislumbramos, ao longe, as oito torres eólicas do Parque do Mosteiro, que fornecem energia à rede desde 2004. Saindo da estrada nacional, o caminho continua por uma via de terra batida, onde depois de subidas íngremes pela serra se avista um “mar de espelhos”, onde o sol reflete, ainda tímido por ser tão cedo. Chegámos ao primeiro parque híbrido da Península Ibérica onde, entre calços e socalcos, a EDPR instalou 17 mil painéis fotovoltaicos que ocupam 11 hectares de um terreno acidentado que já tinha sido devastado por incêndios, por mais do que uma vez. Uma obra complexa, que se iniciou em 2022 e que trouxe alguns desafios à engenharia da EDP.

grandes números

Como explica Adelino Barbosa, responsável pela Gestão de Projeto da EDPR Portugal, nestas zonas “onde há variações das camadas rochosas, há surpresas”. E esse acabou por ser um dos maiores desafios na construção deste parque. “A meio do projeto tivemos de alterar o tipo de furação, porque a dureza do solo era diferente. São desafios que se colocam na altura e a que a engenharia tem rapidamente de reagir para o projeto avançar, sem estragos e perdas de equipamentos”, relembra.

No cimo da serra, a paisagem é deslumbrante: vê-se o cume da Serra da Estrela, a cidade da Guarda, Espanha e o Rio Côa, naquilo que mais parece uma pintura. O vento é forte e gélido; as turbinas dançam a um ritmo acelerado produzindo a sua própria música.

Com a hibridização, tanto a energia solar como a eólica podem estar a ser produzidas em simultâneo. “Neste momento (manhã), estamos a produzir essencialmente energia eólica”, conta Hugo Correia, responsável de Parque de Operação & Manutenção, há 16 anos. “A energia solar só pode produzir a diferença entre aquilo que o vento está a produzir e os 10,5 MW, o máximo que o parque pode produzir”.

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Ao longo de 1 Km, no cimo da serra, encontramos os oito aerogeradores que tínhamos visto da estrada, mas agora em tamanho real, o que os torna bem mais imponentes (cada um tem 56 metros, o equivalente a um prédio de 15 andares, aproximadamente).

O parque eólico de Mosteiro tem uma capacidade instalada total de 11 MW e já inclui uma turbina mais potente instalada no âmbito de um projeto de sobreequipamento. Desde que entrou em produção em 2004, já produziu mais de 350 GWh de energia limpa no município do Sabugal.

À frente da subestação, encontramos o portão para a central solar fotovoltaica Mina de Orgueirel. Hugo Correia abre as portas para uma visita ao “mar espelhado” que foi construído ao longo da encosta da serra e que se confunde com o rio Côa mesmo ali ao lado. “Não foi um trabalho fácil instalar estes painéis, principalmente numa orografia de terreno tão acentuada como esta”. Tudo foi feito com o máximo cuidado: desde o transporte até à montagem de cada painel.

À medida que as horas passam, o vento acalma e as pás das turbinas reduzem o ritmo. O sol já vai alto, e na rede injeta-se, agora, maioritariamente energia solar. Com uma capacidade instalada de 8,4 MWp, o sol reflete-se nos painéis solares fotovoltaicos bifaciais, uma tecnologia que permite aproveitar a irradiação solar de ambos os lados, maximizando a produção renovável. “As grandes vantagens destes painéis é ao nível da produção. Produz através da luz direta – a incidência direta nas células – e pela luz indireta refletida no solo na face traseira. Quanto mais refletor for o solo, mais produz na parte de trás do painel”, esclarece Adelino Barbosa.

fotografia de uma eólica e painéis solares no Sabugal

Toda a informação desta central fotovoltaica é dada pelas caixas (a que chamam “corações”) que se encontram em cada fila de painéis, conhecida como “string”: “São os inversores que emitem os sinais do estado de conservação e da quantidade de energia que estão a produzir”, explica o gestor de Projeto EDPR Portugal.

Para que tudo funcione na perfeição, tanto o parque eólico como a central solar exigem cuidados de manutenção diários. E aqui existem reptos acrescidos do ponto de vista técnico e operacional, como sublinha Tiago Viegas, responsável pela Operação e Manutenção da EDPR Portugal: “Há trabalhos que se têm de realizar num parque fotovoltaico o que, neste caso, numa orografia do terreno acentuada as tarefas de manutenção (corte de vegetação, limpeza de painéis, até substituição de painéis e inversores) representam um grande desafio, porque é necessário circular no parque e transportar estes componentes”.

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Este casamento entre sol e vento é um assinalável upgrade no que diz respeito à produção de energia renovável. “Praticamente duplicámos a capacidade do parque com a instalação do projeto solar na mesma infraestrutura do parque eólico. Estávamos a usar cerca de 25% da capacidade que tínhamos na rede e agora estamos perto dos 50%. Obviamente, é um elemento essencial de aceleração da transição energética”, revela Duarte Bello, Chief Operating Officer da EDP Renováveis para a Europa e América Latina.

Em conjunto, este projeto de hibridização poderá produzir 39,5 GWh/ano, o suficiente para fornecer energia renovável a mais de 30 mil pessoas, durante um ano. Um benefício claro para os munícipes do concelho do Sabugal, assegura Vítor Proença, presidente da Câmara Municipal. “Este é um município virado para aquilo que são as energias renováveis, para o desafio que hoje em dia vivemos, atendendo à atual conjuntura económica e à estratégia energética do país, portanto, estamos muito à frente nesta questão das energias renováveis”, adianta.

Hugo Costa, EDPR Country Manager Portugal, confirma que a EDPR está fortemente comprometida com os municípios onde instala os seus projetos: “O município do Sabugal não é uma exceção e temos também um protocolo celebrado com este município, ao qual damos um apoio relevante e esperamos que possa vir a intensificar-se”.

No que diz respeito ao ambiente, o novo complexo híbrido vai evitar a emissão de cerca de 18 mil toneladas de CO2 , anualmente. “A hibridização tem grandes vantagens, tanto para o sistema como para as empresas, pois aumenta a produção de eletricidade e minimiza o impacto de novos projetos renováveis utilizando as infraestruturas existentes”, salienta Duarte Bello.

“Acima de tudo, identificámos um conjunto de projetos piloto para percebermos onde poderíamos entrar com projetos de dimensão relativamente reduzida, mas já utility scale, que nos permitisse combinar estas duas tecnologias. Têm perfis de produção diferentes, diários, e isso permite-nos, efetivamente, ganhar em termos de eficiência porque aumentamos o fator de carga”, refere Hugo Costa. E explica como é feita a combinação destas duas tecnologias: “Pensando num diagrama em que temos uma limitação em termos de potência de injeção, onde temos um perfil eólico de produção com mais produção à noite, com o fator de carga na ordem dos 30% , e um solar exatamente ao contrário, com um pico de produção durante o dia, com um fator de carga na ordem dos 20%, conseguimos conciliar as duas tecnologias aumentando o fator de carga da mesma capacidade de injeção em 20%, passando de cerca de 30 para 50. Por isso, é um ganho de eficiência significativo sem que haja investimentos em reforços de rede”, conclui.

E assim foi... no final do dia, quando o sol se pôs – e sendo o clima da região muito rigoroso, tocando sempre nos extremos – as pás dos aerogeradores começaram a rodar com mais velocidade e a energia solar deu lugar à energia eólica.

 

Perguntas a...

Duarte Bello, COO da EDP Renováveis para a Europa e América Latina.

Oasis ao entardecer - exposicao

 

1. Qual a importância deste projeto?
Permitiu-nos dobrar a capacidade que estávamos a utilizar da rede. Com o parque eólico estávamos a usar 25% da capacidade, e com o solar já estamos perto dos 50%. Obviamente, é um elemento essencial de aceleração da transição energética, porque com as mesmas infraestruturas conseguimos aproveitar melhor as potencialidades. Nesta altura, em que produzir energia renovável é cada vez mais importante, este parque é um símbolo do que estamos a fazer na Península Ibérica, no sentido de conseguimos utilizar o que já existe.

2. Quanto tempo demorou a construção deste parque?
Este foi dos primeiros parques que começámos a licenciar. O processo de licenciamento foi iniciado há mais de três anos, mas a construção em si começou no início de 2022 e terminou no final do mesmo ano.

3. Para o futuro, que projetos deste género tem a EDPR em pipeline?
Iniciámos esta estratégia há quase cinco anos. Este é o primeiro parque da Península Ibérica, e estamos a iniciar a construção de um outro de 18 MW em Portugal e, em Espanha, estamos a construir três parques, de 50 MW. Tudo somado, ficamos com cerca de 75/80 MW em novos parques. Em 2023, na Península Ibérica e juntando sinergia com o resto do Grupo - com as hídricas que temos, sobretudo em Portugal – temos já um portefólio de 1600 MW, que queremos desenvolver ao longo desta década. Mas apesar de estarmos a acelerar mais na Península Ibérica, já temos projetos noutros países: Polónia, Grécia, Itália e EUA. Além disso, estamos a olhar para a hibridização com projetos com baterias, uma solução aplicável em praticamente todos os países.