20 Abr 2020
5 min

Uma nova forma de conceber a distribuição e produção de eletricidade. Esta é a história do InovCity. 

Em pleno século XXI, o mundo procura novas formas de reduzir o consumo energético. Mas, no Alentejo, uma cidade histórica descobriu o segredo contra o desperdício de energia.

As ruínas do Templo de Diana continuam a testemunhar a passagem dos séculos, a Universidade a acolher as novas gerações e o Aqueduto da Água de Prata a marcar a paisagem com o seu porte imponente. Mas, nesta cidade cujo centro histórico é Património Mundial da UNESCO, algo mudou. 

Das habitações aos estabelecimentos comerciais e edifícios públicos, o consumo elétrico por estimativa é coisa do passado. Aqui, qualquer cidadão pode saber exatamente e em tempo real quanta energia consome. Eis Évora, a primeira cidade inteligente de Portugal.

As cidades inteligentes caracterizam-se pelo uso de redes elétricas inteligentes, em que a tecnologia digital permite resolver problemas das redes tradicionais, com vantagens a diversos níveis.

Em casa

O consumidor sabe exatamente quando, como e onde gasta energia ao longo do dia e pode:

  • programar os eletrodomésticos para funcionarem nos períodos mais convenientes.
  • gerir consumos em tempo real, minimizando custos.
  • usufruir de novos serviços e planos de preços ajustados aos seus perfis de consumo.
  • recorrer a soluções integradas de domótica para interagir com dispositivos de consumo doméstico.
  • ativar remotamente serviços como alterações tarifárias e de potência.
  • produzir energia em casa, para utilização própria ou para venda à rede, através da instalação de painéis solares fotovoltaicos ou pequenas turbinas eólicas em casa.
  • fazer uma gestão energética mais eficiente, através da consulta online do balanço entre o que consome e o que produz.
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“Sou microprodutor há 4 anos. Foi uma microprodução perfeitamente estudada, na escolha de painéis solares e na potência instalada. Hoje, aquilo que produzo é praticamente aquilo que consumo."

Microprodutor de Évora

Na empresa

As redes inteligentes potenciam:

  • projetos industriais e centros de competências criadores de emprego e de exportação.
  • projetos de investigação científica em colaboração com o meio académico.
  • ferramentas inovadoras que permitem às empresas um controlo extremamente detalhado e fiável dos seus consumos de energia.
  • o ajuste do consumo energético à atividade empresarial, que pode resultar em níveis de eficiência superiores e na redução de consumos.
  • a oferta de mais e melhores produtos e serviços por parte das empresas de serviços energéticos.
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“Conseguimos identificar os picos de energia e corrigir algumas situações. Por exemplo, desligar remotamente as salas do museu que não estão a ser usadas. A poupança geral anda na ordem dos 12%.”

Responsável do Museu de Évora

Nos espaços públicos

O que muda nos espaços públicos?

  • substituição de luminárias tradicionais por tecnologia LED – redução de 40% a 50% no consumo de eletricidade.
  • regulação da iluminação em função das condições naturais de luminosidade: com o entardecer, a iluminação ativa-se e aumenta progressivamente de intensidade, evitandos consumos desnecessários.
  • diminuição da intensidade luminosa entre as 2:00 e as 5:00, mantendo as condições mínimas de segurança.
  • adoção de sistemas de controlo dinâmicos, que fazem a gestão do fluxo luminoso em função da presença rodoviária ou humana, do estado da luminosidade ambiente e das condições ambientais.
  • a tecnologia LED é também utilizada nos semáforos de gestão de tráfego, permitindo uma poupança de energia de cerca de 80% face às lâmpadas incandescentes.

Projeto Inovcity

Com o intuito de transformar as cidades em espaços inovadores e inteligentes, o projeto InovCity foi lançado no terreno alentejano pela EDP Distribuição, em 2010, com o apoio da EDP Inovação, Lógica, Inesc Porto, Efacec, Janz e Contar.

Évora foi, assim, a primeira metrópole ibérica a testar uma nova forma de conceber a distribuição e produção de eletricidade. O primeiro passo centrava-se na automatização da gestão das redes elétricas, de forma a reduzir os custos de operação, promover a eficiência energética e a sustentabilidade ambiental.

Mas o início da história de Évora, a primeira cidade inteligente, remonta a 2007, ano em que a EDP iniciou o desenvolvimento de um projeto pioneiro a nível europeu, que revoluciona as redes e a sua forma de interação com os consumidores: o Inovgrid.

O objetivo do Inovgrid é caminhar para um sistema elétrico de distribuição inteligente, centrado na telegestão da energia.

Porquê Évora?

Aires de Messias, responsável da EDP Distribuição pelo projeto explica a escolha desta cidade:

“Procurámos identificar municípios em que fosse possível controlar todo o processo o mais possível, desde início até final do projeto. Queríamos também uma definição administrativa que nos desse isto. Por outro lado, teríamos que contar com envolvimento de alto nível das comunidades locais. O local precisaria, por exemplo, de universidades, bons interlocutores dos media locais, ... Évora tem revelado ter tudo isso. O município escolhido teria ainda que ter uma abordagem ao projeto muito alinhada com a da EDP. Finalmente, teria que ser uma cidade já preparada para ter carros elétricos, uma cidade que fizesse parte do conjunto de cidades piloto do projeto de carro elétrico.

A Inovcity teve um impacto enorme na universidade de Évora e na comunidade local ao nível do desenvolvimento de projetos e cursos na universidade e ate no turismo. Causou um impacto muito positivo ao nível da eficiência energética.”

60%

Poupança obtida no consumo de eletricidade com a introdução de tecnologia LED e inteligência artificial em Évora

2011

Ano em que o InovCity foi selecionado pela Comissão Europeia e pela Eureletric como single case study de redes inteligentes de energia entre mais de 260 projetos

100 mil

Número de novas EDP Box que foram instaladas em Évora, permitindo a outras tantas famílias portuguesas reduzirem a fatura energética.

Depois de Évora

O projeto foi considerado uma renovação tecnológica e passou a ser uma referência mundial pela sua capacidade da operação da rede de distribuição, suportada numa infraestrutura que dá resposta às necessidades decorrentes da eficiência energética, telegestão, produção distribuída e microgeração.

O Inovgrid nasceu como iniciativa empresarial no Programa Distribuição 2010. Na fase inicial estruturou-se como projeto de I&D, no âmbito do QREN, tendo a EDP Distribuição formado um consórcio com vários parceiros para fazer o seu desenvolvimento. A implementação da solução base avançou por fases: pré-instalação em 2009/2010 em vários pontos do país para validações tecnológicas e de processos, seguida de instalação massiva em Évora em 2010/2011.

O Évora Inocity foi a primeira cidade a integrar todas as dimensões deste projeto, ao avaliar o impacto do InovGrid, nomeadamente no que respeita aos benefícios para o consumidor e para as operações sobre a rede. Ao mesmo tempo, permitiu à EDP ganhar experiência para o roll-out futuro.

Depois do sucesso do projeto na cidade alentejana, foram selecionadas sete novas localizações com diferentes características. Guimarães, S. João da Madeira, Lamego, Marinha Grande, Batalha, Alcochete e as ilhas de Faro e Olhão foram as cidades escolhidas para instalar este sistema elétrico de distribuição inteligente.

O projeto já chegou também a Espanha e ao Brasil. Em 2011, o projeto InovGrid transformou Aparecida na primeira cidade do Estado de São Paulo dotada de uma rede inteligente de energia. O projeto piloto previa o teste de viabilidade de um conjunto de tecnologias que permite uma maior eficiência e qualidade na prestação de serviços ao cliente, como a medição inteligente, iluminação pública eficiente, micro-produção com fontes renováveis de energia, mobilidade elétrica, e ações de eficiência energética.