03 Jul 2022
7 min

Entrevista a Bautista Rodriguez

Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e albergam cerca de 80% de toda a vida do mundo, sendo a maior biosfera do planeta. Geram 50% do oxigénio de que precisamos, absorvem 25% das emissões de dióxido de carbono e capturam 90% do calor adicional gerado por estas emissões. Na verdade, não só são o "pulmão do planeta", como são o maior eliminador de carbono, um amortecedor vital perante os impactos das alterações climáticas.

Entre os dias 27 de junho e 1 de julho de 2022, Lisboa acolheu a segunda edição da conferência das Nações Unidas sobre os oceanos, na qual a EDP participa ativamente, ao anunciar, entre outras coisas, o plano de investir 1,5 milhões de euros em projetos renováveis marítimos até 2025.
Para conversar sobre como a estratégia do grupo EDP offshore é prova de que um oceano pode ser gerido de forma sustentável através da inovação e a tecnologia integrada no seu ecossistema, fomos falar com Bautista Rodriguez, Chief Technical Director da EDPR e CEO da Ocean Winds.


Com o lema "Salvar o Oceano, Proteger o Futuro", esta conferência convida a agir, ao tentar motivar os líderes dos 193 países da ONU a criar alianças e aumentar o investimento em temas científicos e inovadores para reverter a deterioração da sua saúde. De que forma é que a energia eólica offshore pode apoiar a sustentabilidade dos oceanos?

A energia eólica offshore foi incorporando, desde início, a tecnologia de engenharia, de design, que se foi desenvolvendo no setor do oil & gas, tendo também incorporado toda a filosofia, cultura, abordagem que se tinha usado no desenvolvimento das renováveis em terra.
Por este motivo, creio que é um setor de atividade onde, desde início, a sustentabilidade, a minimização do impacto ecológico ou até o favorecimento do desenvolvimento da biodiversidade marítima tiveram um lugar preponderante. Em todas as inovações e em todos os processos em que participamos este tipo de melhoria contínua, de compatibilidade do eólico offshore com a biodiversidade marítima está em melhoramento constante.
 

Bautista Rodriguez
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O offshore instala-se em zonas onde não há habitantes, não há localidades, mas onde há muitas comunidades a trabalhar. temos de assegurar que existe compatibilidade.

Bautista Rodriguez, Chief Technical Director da EDPR e CEO da Ocean Winds.

Como podemos desenvolver os projetos offshore em coordenação com as comunidades locais que dependem do oceano?

O offshore instala-se em zonas onde não há habitantes, não há localidades, mas onde há muitas comunidades a trabalhar. Falo de pescadores, de transporte marítimo, falo até de outro tipo de aproveitamento da riqueza marinha. Antes de mais, temos de assegurar que existe compatibilidade, ou seja, também terá de ser vantajoso para estas comunidades. No caso dos pescadores, dos portos locais, precisamos de uma série de serviços, que começam na costa e, depois, até maior proximidade, que são de extrema riqueza para esta comunidades, que são os fornecedores naturais destes serviços de que os parques no mar precisam.

Como serão os avanços desta tecnologia? Podemos continuar a explorar os oceanos com a eólica marítima e contribuir para o objetivo da EDP de ser 100% verde até 2030?

Com certeza que sim. O potencial geral do mar é muito amplo no que diz respeito ao crescimento
da eólica marítima. Na verdade, as limitações poderão ser económicas, garantir que o produto não encarece se nos afastarmos ou coisas deste género. Mas, sem dúvida, é um dos fatores, dos pontos-chave, neste caso, para a EDP, para cumprir os objetivos de 2025, que já tem uma contribuição, ou até crescimento futuro. Isto porque as renováveis onshore começam a ter falta de espaço disponível para a mineração, quando o offshore tem um espectro muito maior de crescimento. A necessidade de continuar a evolui a eólica marítima e a disponibilizá-la em países com uma plataforma mais profunda contribuiu para o desenvolvimento da tecnologia flutuante.

A Ocean Winds é líder na eólica marítima flutuante. Será uma tecnologia de rápido crescimento, mesmo para outras empresas?

Com certeza. Nos últimos anos, os grandes intervenientes do offshore foram generalizados, estão incorporados e participam nas licitações de terrenos e nas oportunidades de eólica offshore. Isto porque, como dizíamos antes, o oceano, ou os mares, no geral, oferecem possibilidades quase ilimitadas, mas o offshore mais tradicional, o que se fixava no fundo do mar, tem uma limitação natural de viabilidade económica de cerca de 60 metros de profundidade. Portanto, isto abre uma ampla gama de zonas para estabelecermos os parques, mas muitas regiões do mundo, muitos países, pelas características do leito marítimo, não o permitem. O offshore flutuante resolve completamente esta necessidade. Foi uma técnica usada primeiro pela EDP e agora pela Ocean Winds. Foram pioneiros no desenvolvimento. Poderá até ser uma das vantagens diferenciais que temos quando queremos entrar neste segmento, que, sem dúvida, dentro de poucos anos, vai começar a igualar e a superar a capacidade instalada da eólica convencional fixa no fundo do mar.

A Ocean Winds tem objetivos concretos de crescimento. De que precisamos para apoiar a eólica renovável marítima em todo o mundo?

Regra geral, para se desenvolverem as necessidades das renováveis, e talvez seja ainda mais importante, desenvolverem-se num curto espaço de tempo, para responder às necessidades, porque os acontecimentos levam-nos a querer maior independência energética e, claro, evitando quaisquer emissões adicionais para a atmosfera, isso é muito comum. Além disso, estão quase sempre vinculados ao processo de permitting e interligação da rede. Claro que precisamos de investimento, de conhecimento, de perceber o negócio... Isto tem de estar sempre presente. O que está a limitar o caminho crítico e a impedir um desenvolvimento célere da potência que todos os países afirmam precisar... Declaram que um objetivo a curto prazo é conseguir que os processos de permitting sejam reduzidos, sejam simplificados. Isto não significa que tenhamos de ser, se me permite, mais light, menos rigorosos, do ponto de vista científico e ambiental, mas temos de encurtar os períodos, tal como, em muitos casos, a ligação à rede é o fator limitante, que impede o desenvolvimento.

Windfloat Atlantic Offshore Wind Farm

O offshore mais tradicional, o que se fixava no fundo do mar, tem uma limitação natural de viabilidade económica de cerca de 60 metros de profundidade. O offshore flutuante resolve completamente esta necessidade.

A Agência Internacional de Energia estima que esta fonte energética poderia produzir o equivalente a dez vezes o consumo da Europa para 2040. Acredita que os oceanos têm a fonte energética renovável definitiva?

Depende dos países e das geografias. As renováveis, seja a eólica ou a fotovoltaica, podem estar a chegar a níveis de saturação e aceitação social que vai ser difícil continuar a estabelecer de forma massiva. Por outro lado, no mar, como dizia, temos a solução definitiva. Não temos um limite real de potência que podemos instalar, o que a torna compatível, como disse, com outras atividades no mar. Regra geral, os países organizam os planos de ordenação do território marítimo, indicam em que zonas podemos ou não instalar estes parques e, sem dúvida, a capacidade e a extensão necessárias para cobrir qualquer necessidade são superiores às previsões de necessidades para muitos anos. Claro que isto não impede que se desenvolvam outras fontes. Mas existem possibilidades.

A UE indica a eólica marítima como um setor-chave da chamada "economia azul". Na sua opinião, que desafios e oportunidades apresenta esta tecnologia para liderar um modelo de transição energética no mar?

A indústria pode usar a experiência de isto ter sido desenvolvido em terra e creio que a abordagem sempre foi positiva. Creio que é o caminho. A inovação tecnológica, os tipos de turbinas, os sistemas de instalação cada vez mais sofisticados, o próprio flutuante tem muito menos impacto no leito marítimo e nos mamíferos. A própria tecnologia ajuda. Uma boa ordenação do espaço marítimo, uma evolução técnica e um quadro regulamentar adequado são os condimentos de que precisamos.
Quero só realçar a importância deste tipo de eventos, como o que aconteceu em Lisboa, para trazer para primeiro plano tudo o que esteja relacionado com a economia dos oceanos e a forma como, neste caso, as energias renováveis podem ser um elemento fundamental para assegurar esta economia de forma sustentável para o meio-ambiente e compatível com a conservação global do que é o planeta.

EDP na Conferência dos Oceanos da ONU

A EDP participou na Conferência dos Oceanos, promovida da ONU, que decorreu de 27 de junho a 1 de julho, em Lisboa, onde anunciou o investimento de 1,5 mil milhões de euros em projetos renováveis no oceano até 2025, para a meta de adição de capacidade eólica da Ocean Winds (OW) – a joint venture que detém em 50/50 com a Engie – reforçando a liderança na transição energética através da aposta na energia eólica offshore.
Foi nesse sentido que a EDP, a EDP Renováveis e a Ocean Winds subscreveram recentemente os nove Princípios para o Oceano Sustentável, estabelecidos pela UN Global Compact (uma iniciativa especial do Secretário-Geral da ONU dedicada à mobilização da sustentabilidade das empresas) e que oferecem um enquadramento para a prática de negócios sustentáveis em todas as indústrias e regiões.

A EDP organizou ainda um side event, intitulado "Business4Ocean" que visou mostrar casos de negócios de utilização sustentável e protecção dos oceanos e envolver os participantes num diálogo multilateral sobre os principais desafios a uma maior implantação de uma economia azul sustentável. Os participantes incluirão representantes do sector empresarial, do sector público, de ONG, do meio académico e outras partes interessadas.

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Protegendo a biodiversidade
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O Windfloat é um projeto pioneiro e inovador da EDP que visa a instação de turbinas eólicas flutuantes no mar.