Cidades sustentáveis: mais verdes e habitáveis
08 Set 2021
8 min

Uma vida urbana mais verde

A população mundial continua a crescer e, mais do que isso, cresce nas cidades, que representam apenas 3% da área dos continentes. É preciso tornar as cidades mais verdes e sustentáveis, para assegurar a qualidade de vida das pessoas e do planeta. Em 2030, serão 5 mil milhões os habitantes de cidades, cerca de 60% do total da população.

As cidades estão a crescer cada vez mais. Seja pela procura de emprego, por melhores perspetivas de educação e cuidados de saúde, ou porque a guerra, a pobreza e as alterações climáticas levam as pessoas a procurar mais os centros urbanos. Segundo a ONU, 3,5 mil milhões de pessoas vivem atualmente em cidades, cerca de metade da população mundial, e esse número deverá crescer para 5 mil milhões na próxima década, representando 60%, perspetivando-se já uma percentagem superior a 70% de habitantes urbanos em 2050.

Estes números são suficientes para lançar alertas para a necessidade de repensar as cidades de forma a acomodarem esse crescimento populacional e as suas consequências. Mas há outros dados ainda mais preocupantes, como o facto de mais de 800 milhões de pessoas viverem atualmente em bairros de lata ou urbanizações degradadas, principalmente na Ásia. E apesar de, segundo a ONU, as cidades ocuparem apenas 3% da área dos continentes, consomem entre 60% e 80% de toda a energia e emitem 70% dos gases com efeito de estufa. Por outro lado, são também as cidades que estão mais sujeitas ao efeito das alterações climáticas e à subida do nível da água.

Objetivo: segurança, inclusão, resiliência e sustentabilidade

É com a melhoria das condições de vida das populações das cidades em mente, e o efeito que isso pode ter no planeta em geral, que a ONU dedica um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 11) às Cidades e Comunidades Sustentáveis. A necessidade de reforçar a sustentabilidade no meio urbano acaba por cruzar vários planos que, no seu conjunto, trazem benefícios para as pessoas, para a economia e para o ambiente, tanto a nível do ecossistema local como do próprio planeta.

objetivos diversidade

Mobilidade e eficiência energética

Tendo como desígnio o direito a uma habitação com condições adequadas às necessidades de uma pessoa ou de uma família, é a diferentes níveis que as cidades um pouco por todo o mundo precisam de maior intervenção. Em zonas urbanas da Ásia, África e América Latina há milhões de pessoas a viver sem condições de segurança ou higiene - 24% do total da população urbana, em 2018, segundo uma atualização da ONU. Já nos países mais desenvolvidos, além de haver áreas densamente povoadas, é a eficiência energética e o custo de manter uma casa quente no inverno e fresca no verão que mais preocupa.

Tanto num lado como no outro, a pandemia da Covid-19 colocou a nu os problemas da concentração de população: é nas áreas urbanas, particularmente nos bairros mais desfavorecidos, que o vírus provoca mais infeções e consequências graves na saúde. Aliado a isso surgem os problemas do trânsito excessivo, da falta de estacionamento, dos obstáculos à circulação de peões, com as consequências que isso traz para o ambiente e para a qualidade de vida nas cidades.

Bicicletas

Os veículos elétricos ajudam a melhorar o ambiente e as bicicletas reduzem a pressão do trânsito

A solução passa por abordar as dificuldades em conjunto, com uma atuação a vários níveis, tanto no centro como na periferia. Se, por um lado, o incentivo à mobilidade elétrica e a criação de mais postos de carregamento ajudam a atrair automobilistas e reduzir a poluição, por outro lado, a construção de ciclovias e a promoção do uso da bicicleta como meio de transporte e de carga, retiram carros das estradas. Lisboa, por exemplo, que foi Capital Verde Europeia em 2020, pretende fechar 2021 com 200 km destas vias. Antes disso, em setembro do mesmo ano, acolhe a conferência internacional Velo-City, o maior evento mundial sobre o tema.

Paralelamente, a aposta em transportes públicos e a criação de parques periféricos nas grandes cidades, junto a estações multimodais, ajudam a melhorar ainda mais o trânsito, e dão mais espaço - e qualidade de vida - aos peões. E, no futuro, a mobilidade será cada vez mais um serviço, o eterno ‘carro da família’, que muitas vezes fica estacionado longe de casa, dá lugar à bicicleta, aos transportes públicos e aos carros partilhados a que se recorre quando é necessário. Em outubro, a ONU organiza em Pequim a segunda Conferência Internacional de Transportes Sustentáveis, centrada nos desafios desta área para cumprir os ODS até 2030 e no cumprimento das metas do Acordo de Paris.

Menos poluição e menos lixo

Um dos efeitos imediatos das transformações da mobilidade nas cidades nota-se no ambiente, seja a poluição sonora ou do ar. E esse é outro ponto crítico definido pela ONU, até porque a poluição do ar mata cerca de 4,2 milhões de pessoas por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde, e 9 em cada 10 pessoas respiram ar com algum tipo de poluente. Uma cidade limpa, verde e bem planeada, tem vantagens diretas para a saúde.

Enquanto centros de consumo, as cidades são responsáveis por toneladas de lixo diariamente. E, segundo o UN-Habitat, programa da ONU para as cidades sustentáveis, cerca de 3 mil milhões de pessoas vivem em zonas que não têm sistemas controlados de tratamento de resíduos. O lixo pode ser um potenciador de doenças, além de poluir tanto os solos como a água, afetando não só o consumo deste bem escasso como os rios e oceanos.

Inverter a tendência passa pela reciclagem e pelo melhor tratamento do lixo, mas antes disso deve haver um investimento a montante, na promoção de um estilo de vida com menos recurso a plásticos e outros materiais que apenas servem de embalagem. Reduzir e reutilizar, dois dos ‘R’ da Economia Circular são formas de combater o desperdício tão ou mais importantes do que a correta separação de lixo nos caixotes.

As cidades e os países mais desenvolvidos estão também a apostar cada vez mais na compostagem, para as pessoas transformarem resíduos orgânicos em fertilizante natural, e a lutar contra a utilização das embalagens de plástico de utilização única. Em Portugal, segundo o Governo, entre março de 2020 e maio de 2021 foram colocados 15 milhões de garrafas de plástico em máquinas de recolha, num programa piloto que devolve dinheiro na forma de um talão. O próximo passo será uma taxação de garrafas de plástico a partir de 2023, para promover ainda mais a sua colocação neste tipo de máquinas, de forma a cumprir as metas europeias de 77% de reciclagem deste tipo de garrafas até 2025. Pode parecer um objetivo difícil, mas há um país que faz bem mais do que isso há vários anos: na Noruega, 97% das garrafas de plástico são recicladas. Outros, estão, tal como Portugal, a meio caminho. É o caso de Inglaterra, onde, em Londres, cidade onde um adulto adquire, em média, 175 garrafas de água em plástico por ano, foram desenvolvidas várias iniciativas para combater estes plásticos de uso único, como a criação de fontes espalhadas pela cidade e uma rede de espaços onde é possível encher uma garrafa de água.

Cidades verdes, por que não?

As zonas urbanas, principalmente as grandes cidades, nunca poderão ser comparadas às áreas rurais ou com menos construção. Mas o verde é cada vez mais um objetivo, e deverá sê-lo, pelos benefícios que tanto os grandes parques, com vários hectares, como os pequenos jardins em prédios ou pracetas trazem para o ambiente e para a vida das pessoas. É cada vez mais comum encontrar novas espécies de animais selvagens nas zonas verdes, o que só pode ser visto como uma melhoria do ecossistema.

Planear uma cidade sustentável passa por garantir espaços verdes para os seus habitantes, que sirvam tanto de pulmão para toda a área urbana como de local para desporto, para crianças ou apenas para passear ao ar livre. E o ‘campo’ pode mesmo entrar na cidade, através das hortas comunitárias, uma tendência crescente de incentivo à agricultura biológica em meio urbano. Os parques agrícolas promovem a partilha e acabam por reduzir um pouco a entrada de alimentos nas cidades e o desperdício.

Horta

As hortas comunitárias promovem a agricultura biológica em meio urbano e reduzem a entrada de produtos na cidade, bem como o seu desperdício

Outra iniciativa que começa a surgir em algumas cidades é a de deixar crescer a vegetação espontânea nos passeios. O objetivo é permitir que as abelhas tenham acesso a mais flores, aumentando a polinização de todo o tipo de plantas. A medida requer controlo e cuidado, pela possível acumulação de lixo ou detritos, mas a vegetação natural pode rapidamente assemelhar-se a um jardim natural, pelo aparecimento de diferentes plantas. Lisboa também apostou numa outra estratégia do mundo rural, as ovelhas. O projeto Life Lungs, co-financiado pela União Europeia, atua em várias zonas verdes da capital e inclui um rebanho de 20 ovelhas que pasta no Parque da Bela Vista, fazendo uma redução natural da vegetação.

Tecnologia sustentável 

O ser humano procura constantemente formas de melhorar a sua qualidade de vida através da tecnologia, e a sustentabilidade entra cada vez mais na equação, através de sensores, monitorização e melhoria da eficiência urbana, em vários domínios. As ‘cidades inteligentes’ são mais sustentáveis, e espera-se que a nova rede móvel, 5G, possa levá-las para um novo patamar.

A quinta geração móvel junta a uma maior velocidade de comunicações e dados a capacidade de conectar mais dispositivos, não apenas smartphones ou computadores, mas todo o tipo de equipamentos como carros, semáforos, iluminação, caixotes do lixo ou sistemas de rega. No futuro, toda essa sensorização vai permitir melhorar a eficiência da mobilidade e do trânsito, da iluminação, da recolha do lixo ou dos sistemas de rega, trazendo menos poluição e menos desperdício de energia e de água.

As cidades líderes na sustentabilidade

Há várias formas de calcular a capacidade de uma cidade ser mais sustentável, e vários rankings que levam a posições distintas. No entanto, com diferenças ligeiras de pontuação, a liderança mundial da sustentabilidade urbana acaba por estar sensivelmente nas mesmas cidades, de países europeus, asiáticos ou da América do Norte.

objetivos diversidade

A sustentabilidade é um objetivo que todos devemos ambicionar, principalmente nos grandes centros urbanos. Os maiores desafios e obstáculos destas zonas densamente povoadas, quando ultrapassados, apresentam também os maiores benefícios para a população, para o ambiente e para a própria economia local e nacional. Se as florestas são o pulmão do planeta, as cidades são o coração da sociedade.

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