Acreditar que há uma forma de educar rapazes e uma forma de educar raparigas é o primeiro passo para se crescer a achar que há empregos para rapazes e empregos para raparigas. Mas ao perpetuarmos estes estereótipos, estamos a enviesar e limitar as suas possibilidades no amanhã. Afinal, quais serão as raparigas que sequer ponderarão um percurso profissional numa área sobre a qual nunca ouviram falar ou em relação à qual cresceram a ouvir dizer “Isso não é para ti, isso é para rapazes”?. E o mesmo se aplica no sentido inverso, claro!
Estes estereótipos, ainda que hoje em dia estejam identificados e que seja óbvia a necessidade de os combater, ainda são por demais evidentes, em particular no acesso das raparigas a determinadas áreas, como as STEM.
Reconhecer o problema para trabalhar nas soluções
A desigualdade entre homens e mulheres nas áreas STEM é inegável e ainda existe um longo caminho para percorrer, rumo à igualdade de direitos e oportunidades.
De acordo com o Global Gender Gap Report 2021, do World Economic Forum, serão precisos 136 anos para eliminar o gap de género nas profissões STEM e este número tem vindo a aumentar e não a diminuir: em 2018, o mesmo relatório diziam que seriam necessários 118 anos.
Este gap é reforçado pela UNESCO, que avança em, em todo o mundo, apenas 28% dos investigadores são do sexo feminino. Um número em linha com o apresentado pelo United States Census Bureau, em janeiro de 2021, que refere que as mulheres representam sensivelmente metade da força de trabalho norte-americana, mas apenas 27% quando falamos nas áreas STEM. Um valor que, ainda assim, revela um crescimento positivo: em 1970 as mulheres a trabalharem em áreas STEM correspondiam a apenas 8% do total de trabalhadores da área.
Esta discrepância revela-se anos antes, ainda na escola. De acordo com a American Association of University Women, apenas 21% dos licenciados em engenharias são mulheres e o número desce para 19% quando falamos das ciências informáticas. Esta discrepância estende-se ao nível da remuneração: em média, os salários dos homens nas áreas STEM são 15 mil dólares/ ano mais elevados do que os salários das mulheres nas mesmas áreas.
O retrato norte-americano espelha-se noutros países, como é o caso do Reino Unido, onde, segundo dados da Higher Education Statistics Agency, apesar da percentagem de licenciadas em áreas STEM continuar a crescer ainda é apenas de 26%. Este número é ainda mais baixo no mercado de trabalho: 24%. Em Portugal, o retrato é ainda mais pessimista: apenas 14,4% de mulheres estão nas áreas tecnológicas, de acordo com a comunidade Portuguese Women in Tech.
Seja através de conversas inspiradoras com pais, amigos ou professores; de livros, vídeos ou podcasts; ou através da vontade de cada um; se todos, rapazes e raparigas, forem livres para sonharem e lutarem pelos seus sonhos, sejam eles quais forem, livres de preconceitos, abre-se um mundo de oportunidades.
Queres ser uma #REBELSFORCHANGE?
1. Não te limites
Queres mudar o mundo? O primeiro passo para seres e fazeres o que quiseres da tua vida é acreditares que podes. E podes! As áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática podem ser o caminho para que o consigas fazer, pois trabalham todos os dias para melhorar a vida de muita gente, em todo o mundo. Curar doenças? Fortalecer a segurança nacional? Ultrapassar as alterações climáticas? É também nisto que trabalham os profissionais que estudam ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
As nossas sugestões:
Women in Tech Podcast - Apresentado por Espree Devora, fundadora da WeAreLATech, este podcast quer inspirar mulheres para as áreas tecnológicas, sob a lógica: se elas conseguem, eu também consigo.
Sadie Sprocket Builds a Rocket, Sue Fliess e Annabel Tempest - Ninguém foi ainda a Marte até a pequena Sadie Sprocket se lembrar de o fazer. Para atingir o objetivo, Sadie lê tudo o que pode e junta uma infalível equipa para a missão espacial: os seus peluches. Um livro que mostra que nada é impossível.
2. Faz perguntas e procura respostas
Esta é a base do trabalho dos cientistas: questionar e procurar as soluções, explorando o mundo, seja no meio da selva ou num laboratório, com um microscópio. Se és uma pessoa curiosa, que gosta de saber a razão das coisas e resolver problemas, não te limites nunca. Todas as perguntas são válidas.
As nossas sugestões:
Invisible Women, Caroline Criado Perez - Neste livro, Caroline Criado Perez demonstra como os algoritmos e sistemas de informação estão definidos para identificar o masculino como o padrão e o feminino como um fenómeno atípico. Como ultrapassar a discriminação?
Her Stem Story - Lançado em 2017, por Prasha Dutra, indiana que se mudou para os EUA para prosseguir uma carreira em engenharia química e mecânica, este podcast dedica cada episódio à história de uma mulher e do seu percurso nas áreas STEM.
Olga y la Extraña Criatura Sin Nombre, Elise Gravel - Olga sonha ser cientista e zoóloga e no seu quarto tem um laboratório, mas tudo se torna mais real quando conhece uma estranha criatura. Um livro que é uma ode ao amor pelos animais e pela diferença.
3. Faz a tua própria pesquisa
Só tu podes escolher o teu futuro. A pesquisa é essencial para perceber o mundo de oportunidades ao teu alcance. Pesquisa documentários, livros, abre os sites das universidades e visita plataformas como a Design The Future, onde podes encontrar o teu caminho profissional. Além disto, não tenhas medo de fazer perguntas. Na tua família, no teu círculo de amigos, entre os teus professores, há alguém ligado a profissões STEM? Fala com essa pessoa, pergunta-lhe sobre o seu dia-a-dia, sobre como chegar lá, e as possibilidades que estudar estas áreas do conhecimento abrem. Mas nem só às pessoas que conheces podes fazer perguntas. Plataformas como o Linkedin podem facilitar-te o acesso a pessoas que admiras. Quem sabe se alguém que vês como uma referência não pode vir a ser a tua mentora?
As nossas sugestões:
The future of Science is Female, Zara Stone - Tão importante como os feitos das mulheres em áreas STEM é a sua jornada. Recorrendo a histórias de mulheres que estão a moldar o século XXI, neste livro Zara Stone mostra como o sucesso é feito de alegria, drama e euforia.
Futureproof Your Career - São mais de 200 episódios, conduzidos por Elise Stevens, que procuram partilhar dicas, ferramentas, técnicas e processos para encorajar jovens e mulheres para seguirem uma carreira de sucesso em STEM.
As Cientistas, Rachael Ignotofsky - Um livro recheado de ilustrações divertidas, que contam a história de 52 mulheres notáveis nos campos da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática, desde a Antiguidade até aos dias de hoje.
Dicas para ajudar #REBELSFORCHANGE
1. Rompam estereótipos e mostrem diversidade
O mundo é diverso e diferentes géneros e culturas podem estar melhor representadas, por exemplo, em profissões STEM. Mostrar que o mundo é diverso, quebrando estereótipos incentiva a que, por exemplo, as raparigas possam projetar-se em determinados lugares e com certas profissões. Identifique mulheres que mudaram o mundo e fale sobre elas, enalteça-as como exemplo a seguir. Para pais, educadores e professores será importante começar por reconhecer as suas próprias ideias-feitas e combatê-las. E nunca, mas nunca, aponte o dedo a um menino que brinca com aspiradores ou a uma menina que gosta de desmontar carrinhos.
As nossas sugestões:
Aida Batista, Cientista, Andrea Beaty e David Roberts - A pequena Aida Batista tem uma curiosidade insaciável, de tal forma que os pais acabam por a deixar de castigo, cansados de tantas perguntas. Um livro para nos mostrar que não devemos cortar as asas dos mais pequenos.
10 Women Who Changed Science and the World, Catherine Whitlock e Rhodri Evans - A história da ciência também é feita de mulheres e para o provar, Catherine Whitlock e Rhodri Evans escreveram minibiografias de cientistas como Marie Curie, a primeira mulher a receber o Nobel a física.
Girls AND Boys Need STEM Education - Nesta TedTalk, Giewee Hammond mostra a importância de envolver os rapazes nesta ideia de que o futuro STEM é igualmente feminino.
2. Falem sobre STEM em casa e na escola
Para que as raparigas possam almejar trabalhar com ciência, desempenhando profissões muito técnicas (muitas vezes desconhecidas até pelos adultos), é essencial que tenham contacto com esse mundo. Falar destas profissões como opções realistas e ao seu alcance é determinante para que as crianças e jovens as possam incluir no seu leque de opções. Também importante é levar os mais jovens a clubes de ciências ou matemática, ATL’s, programas de museus da ciência, entre outros programas que podem mostrar caminhos profissionais até então desconhecidos.
As nossas sugestões:
The Most Magnificent Thing, Ashley Spires - Uma rapariga decide construir o aparelho mais magnífico já inventado. A tentativa e o erro constante deixam-na desesperada e acaba por desistir. Mas o seu melhor amigo, um cão, não desiste dela e convence-a a dar um passeio para recuperar forças e inspiração. Uma história sobre resiliência.
17 Mujeres Premios Nobel de Ciencias, Hélène Merle-Béral - Um livro para descobrir as histórias das mulheres que venceram o Nobel em áreas STEM, desde a pioneira Marie Curie até aos dias de hoje.
3. Ajudem a quebrar o medo da matemática e das ciências
A ideia de que não se é bom a estas disciplinas pode ser socialmente construída, tal como a falta de confiança das raparigas nas suas capacidades de ter bons resultados nas disciplinas científicas. É importante transmitir essa confiança em si e incutir nas raparigas a ideia de que conseguem dominar qualquer tema. E mais, há muitas pessoas bem sucedidas nas áreas STEM que não adoravam a matemática da escola.
As nossas sugestões:
The Women in Tech Show: a technical podcast - Nos mais de 100 episódios disponíveis, a engenheira de softwares, Edaena Salinas, conversa com mulheres das mais variadas áreas tecnológicas, partilhando conselhos de carreira para as áreas STEM.
Rosie Revere: Engineer, Andrea Beaty e David Roberts - Um livro para os mais pequenos, com ilustrações que colocam a pequena Rosie Revere a aventurar-se no mundo da invenção. Onde muitos vêem lixo, Rosie vê inspiração e assim instiga os pequenos leitores a imaginar mundos possíveis.