15 Dez 2021
13 min

Num ano tudo menos normal, toda a nossa vida do dia-a-dia teve de ser repensada e o Natal não é exceção. Sustentabilidade é a palavra de ordem, quer seja para reduzir as despesas ou para evitar excessos e desperdício. Mas concentrar no essencial e poupar não implica reduzir os festejos, pois podemos sempre adaptar, reutilizar ou transformar a casa e as celebrações, sem deixar ninguém ‘de fora’ mesmo que esteja longe. Sejam a família ou os amigos, ou mesmo quem passa mais dificuldades. 

1ª dica: Menos é mais na decoração

A tentação de substituir ou acrescentar peças de decoração de Natal é muitas vezes grande. São as luzes que já não parecem tão bem, uma fita que perdeu volume, as bolas vermelhas que eram seis iguais e já só restam cinco, ou a coroa da porta que tem muitos anos. Na verdade, é principalmente uma questão de perspetiva, pois nós reparamos em todos os detalhes, mas isso não quer dizer que a família ou uma visita ocasional o faça.  

E na altura de acrescentar decoração de Natal, também podemos dar largas à nossa imaginação e improvisar sem ter de correr para uma loja. Desperdícios de cartão ou papel podem ser facilmente reutilizados para falsos embrulhos ou enfeites, com mensagens, poemas ou nomes de pessoas da família ou amigos que este ano não poderão estar presentes. Um passeio no bosque para descomprimir também pode ser um verdadeiro ‘supermercado’ de Natal, com ramos secos, pinhas ou folhas que podem ser usadas na árvore, nas estantes ou num centro de mesa. Faixas vermelhas, verdes ou douradas também podem dar um toque festivo simples às cadeiras, enquanto uma ou duas almofadas com as cores certas e uma manta natalícia fazem o mesmo na zona do sofá. 

Reutilizar acaba por ser um princípio basilar da sustentabilidade, pelo que guardar bem toda a decoração de Natal garante que pode ser usada por muitos anos. A maior parte das coisas quando saem da embalagem são muito difíceis de voltar a colocar, pelo que o truque é ter caixas vazias que sirvam para guardar as luzes, as bolas e todos os enfeites. O mesmo para a árvore, ‘demasiado’ bem comprimida na embalagem original. A caixa do microondas ou torradeira que, entretanto, teve de comprar não tem de ir diretamente para o lixo, tal como as caixas de sapatos. E muitas embalagens pequenas podem ser colocadas numa ‘caixa do Natal’ um pouco maior, de forma a estar tudo separado sem necessitar de muito espaço extra.

Criança pequena junto de uma árvore de natal

2ª dica: Árvores de Natal há muitas

É o drama da maior parte das famílias. Sendo provavelmente o adereço principal da casa, a árvore de Natal deve dominar e agregar a decoração, mas todos os anos há dúvidas que nos assaltam. Não estará a ficar pequena e gasta? Não era espetacular a árvore dos (escrever nome de amigo que nos faz inveja) no ano passado? Não devíamos pensar numa árvore mais sustentável, verdadeira? Bem, pensar na sustentabilidade é sempre um bom princípio, mas é sempre mais importante comprar ou trocar por necessidade imperiosa e não apenas porque sim. Uma árvore artificial que já exista tem a vantagem de durar muitos e muitos anos se for bem estimada. 

Mas se precisamos mesmo de trocar de árvore ou se ainda não a temos, nesse caso há várias hipóteses para quem está particularmente atento à sustentabilidade ambiental. Já pensou alugar um pinheiro verdadeiro? O Pinheiro Bombeiro garante esse toque natural, apoia os bombeiros - e todas as pessoas que eles ajudam - e ainda ajuda a limpar as florestas. Sim, não se trata de cortar árvores indiscriminadamente para o Natal, mas de fazer uma limpeza seletiva de matas, para ajudar a combater incêndios. A ideia surgiu após os grandes incêndios de 2017 e tem crescido todos os anos, tanto que já se expandiu da área de Lisboa para Porto, Leiria, Caldas da Rainha e Torres Vedras. E neste ano de pandemia, feito o aluguer, dá para levantar o Pinheiro Bombeiro num dos pontos de recolha disponíveis ou recebê-lo em casa. Em janeiro, basta devolvê-lo para ser transformado em biomassa. 

Outra hipótese naturalista, para quem tiver um jardim ou acesso a um terreno apropriado, é comprar um pinheiro em vaso, que possa ser plantado depois da época natalícia. 

Finalmente, se não tem espaço em casa ou se nem é grande fã de árvores de Natal, pode sempre simular uma numa parede. Basta ‘desenhar’ o contorno de um pinheiro ou abeto e preencher esse espaço com decorações simples, fotografias, fitas, postais, pequenos quadros… enfim, tudo o que caiba no contorno para facilitar a perceção. Não ocupa espaço, mostra a ideia claramente e no final é só descolar ou rearranjar tudo.

Homem vestido com uma camisola quente a agarrar em luzes de natal perto de uma mesa com decoração de natal

3ª dica: Nem tudo o que brilha, gasta mais

É no Natal que o consumo de energia mais aumenta, associando-se o tempo mais frio às decorações e luzes, sem esquecer o acréscimo de utilização da cozinha. Este ano a época até pode ser mais contida devido à pandemia, contudo isso também significa invariavelmente tempo extra, passado em casa. Mas há várias soluções para equilibrar um pouco o consumo em geral, e energético em particular. Desde logo, para quem está preocupado com o gasto de eletricidade devido às decorações de Natal, a solução passa por escolher luzes e decorações iluminadas em LED ou fibra óptica. Usam menos energia sem defraudar o espírito natalício. Racionalizar a iluminação pode passar também por dar um toque festivo a luzes e candeeiros que já são usados, não aumentando o consumo por essa via; ou usar as luzes de Natal, da árvore por exemplo, como iluminação principal em determinados momentos, quando se está a relaxar no sofá por exemplo. 

Existem também vários auxiliares para rentabilizar o consumo dos equipamentos em standby, como tomadas de botão, temporizadores ou domótica. Neste último, a app Re:dy, da EDP, permite conectar vários equipamentos da casa a uma ‘box’, passando a poder ser controlados de forma eficiente, à distância, através de uma simples aplicação no smartphone ou computador. E não tem de ser só para casas grandes carregadas de eletrodomésticos, há pacotes de todos os tipos, associados também a ar condicionado, veículos elétricos, painéis solares ou equipamentos de jardim. 

O aquecimento também aumenta bastante a despesa energética, e aqui há conselhos e truques que vale a pena seguir. Portas e janelas bem isoladas retêm o calor, tal como portas fechadas de divisões vazias. Abrir cortinas nas janelas que estão a receber luz do sol ajuda a subir a temperatura da divisão, atrasando a hora de ligar aquecimento. E não se esqueça de as fechar quando o sol já passou. Com mantas no sofá, principalmente nos serões de televisão, evita ter de aumentar o termóstato. E sabia que se molhar os pés com água quente antes de deitar consegue um sono melhor e até previne constipações? Se juntar a isso uma clássica botija de água quente, ainda melhor. Quanto a equipamentos, um sistema de ar condicionado é um investimento maior, mas depois tem uma eficiência quatro vezes maior do que um aquecedor elétrico.

Mãe a cobrir o filho, deitado no sofá, com uma manta

4ª dia: Num forno cabem muitos pratos

Os portugueses adoram comer e cozinhar. Não é por acaso que, segundo o Eurostat, é em Portugal que a ‘fatia' da cozinha no total do consumo energético familiar é maior, 35,6% em 2018, mais do que em qualquer outro país europeu. E chega o Natal há milhares de receitas de pratos ou doces para preparar, oferecer ou saborear. Isso pode traduzir-se em excesso de comida, desperdício e consumo de energia. Também aqui há vários truques para equilibrar a barriga, as contas da casa e até o ambiente. 

Na altura de cozinhar, rentabilizar o espaço do forno para mais do que um tabuleiro ajuda a poupar energia, além de garantir mais refeições de uma vez. Por outro lado, escolher o equipamento certo também permite poupar. Para aquecer um copo de leite ou uma chávena chá, por exemplo, é mais adequado o microondas, mas se for chá para toda a família o melhor é o jarro elétrico. Já o fogão pode ser uma alternativa para aquecer a comida que estava no frigorífico e parece demorar muito tempo a atingir a temperatura certa no microondas. 

E já que falamos de frigorífico - ou congelador - além da importância de regrar a abertura das portas, não o ter demasiado vazio ou cheio também ajuda a equilibrar o consumo.  Se as prateleiras estão a ficar vazias, uma hipótese é colocar garrafas de água ou até caixas vazias no frigorífico, para reduzir o volume de ar frio que sai e mais quente que entra. Colocar no frigorífico, com alguma antecedência, os produtos congelados que pretende usar na cozinha também ajuda a manter o frio e gastar menos energia. Na altura de guardar a comida, recipientes adequados e bem fechados, para ficar tudo bem arrumado, representam igualmente menos tempo com a porta aberta. E se é mito que os alimentos não devem ir quentes para o frigorífico, é bem verdade que o consumo de eletricidade aumenta pela necessidade de os refrigerar.

Duas mulheres e uma criança, com um gorro de natal, a cozinhar

5ª: Combater o desperdício e comprar local

Na altura de fazer uma incursão ao supermercado, ter menus já pensados e uma lista de compras para os dias festivos ajuda a evitar excessos. Comprar na quantidade certa, para que não haja comida ou ingredientes a estragar-se no frigorífico ou na despensa, é um pequeno passo para um futuro sustentável, seja pela redução do desperdício alimentar ou pela utilização de menos embalagens. 

Sabendo que Natal combina frequentemente com fartura, também não custa pensar em formas de reaproveitar comida dos dias anteriores para criar novos pratos. Muitas receitas típicas da culinária portuguesa são precisamente isso, aproveitamento de restos. 

E por que não oferecer a quem mais precisa? Há pontos de recolha e restaurantes que aceitam a comida das refeições festivas, que é entregue a pessoas mais desfavorecidas, pelo que pode procurar no seu bairro quem o faça. Neste caso o excesso de comida no Natal até pode ser bem-vindo. 

Por outro lado, as grandes superfícies são a forma mais rápida de fazer as compras para o Natal, mas com algum tempo, e sem grande esforço, se calhar encontra quase tudo o que precisa mais perto de casa. Comprar em lojas, mercearias ou mercados locais ajuda a economia de bairro e pode ser mesmo uma tábua de salvação para pequenos negócios neste ano conturbado. 

Seja comida ou presentes (roupa, calçado, artesanato), apostar na produção nacional pode ter também um impacto muito maior do que se imagina, desde logo até pelo passa-palavra que um presente bem escolhido pode gerar. E mesmo que esteja a gastar mais alguns euros aqui e ali, pode facilmente estar a ganhar o tempo e a despesa (combustível, estacionamento ou transportes públicos) a que as deslocações para uma zona comercial mais afastada obrigam. Além dos menores riscos em tempos de pandemia.

Pessoa de costas a escolher produtos frescos num supermercado

6ª dica: Prendas e embrulhos ‘fora da caixa’

Há muitas formas de surpreender com um presente cuidado, pensado, e sem ter grande despesa. Principalmente para aquele familiar que não gosta de nada, para o amigo que tem tudo ou simplesmente porque não estamos inspirados ou não queremos mesmo, por necessidade ou convicção, entrar na onda do consumismo. 

De umas horas de trabalho na cozinha podem sair doces, compotas, bolachas e biscoitos, azeite aromatizado ou até misturas personalizadas de chá e infusões. As combinações são inúmeras, os ingredientes estão facilmente ao virar da esquina, e mesmo na altura de encher ou embalar, é possível reutilizar frascos ou garrafas e fazer uma decoração festiva com tecido, fitas e etiquetas personalizadas.  

E na necessidade de comprar, também não é preciso ir a correr atrás da última tendência. Pode oferecer experiências, como bilhetes para museus ou espetáculos, que por vezes até têm cartões pensados para isso mesmo, como o MAAT. Workshops online de culinária ou vinhos; de magia, maquilhagem ou fotografia; ou mesmo cursos de línguas são experiências que se podem encontrar facilmente e oferecer, e que fazem ainda mais sentido em tempo de pandemia. E por que não oferecer a assinatura digital de um jornal ou revista, ou um pacote de mensalidades de um serviço de streaming.  

Para crianças, ou com a ajuda das suas crianças, também é possível construir jogos divertidos, como o Monopólio a Mexer ou caixinhas com cartões para um jogo de mímica. Ou mesmo livros feitos em casa, uma história que seja a criança depois a concluir. Basta pegar num bom caderno pequeno branco – ou fazer um com capa de cartão e cordel para prender as folhas – e começar uma história nas primeiras páginas. 

Já para o embrulho, encontrar o papel perfeito pode ser quase tão difícil como escolher um presente. E também é normalmente um desperdício, rasgado em segundos e colocado no lixo. Também aqui há formas de contornar a questão. Folhas de jornal, papel pardo ou papel manteiga para embrulhar e fio de juta ou fitas de uma retrosaria para enfeitar dão aquele toque especial de dedicação.  

A pensar nos mais pequenos, folhas brancas e carimbos de brincar coloridos garantem um momento de descontração em família que resulta num papel de embrulho único. Não há como falhar. E pode também dar folhas grandes aos seus filhos para desenharem e pintarem como quiserem, usadas depois para embrulhar presentes. 

plano de umas mãos a embrulhar presentes

7ª dica: Nem só de papel banal vive o embrulho 

Se o Natal é tempo de partilha, pensar nos que mais dificuldades têm é ainda mais importante neste ano de pandemia. Pode até conhecer alguém nessa situação e ajudar com um pequeno cabaz de produtos. Em família, podem até reduzir o número de  prendas a pensar nisso. Caso não saiba exatamente quem ajudar, pode procurar associações perto de si ou até perguntar na junta de freguesia se há um programa que possa apoiar. A Associação BIPP - Semear, por exemplo, que apoia e dá formação a pessoas com deficiência, vende online cabazes solidários que depois se encarrega de entregar a famílias carenciadas. Já a plataforma Compra Solidária agrega centenas de produtos de todos os tipos - de t-shirts a brinquedos, passando por compotas, livros ou vales de oferta -, vendidos por associações, ONG e outras entidades, ou cuja receita reverte para causas que estão associadas ao próprio artigo. 

Com pequenos passos decididos, alguma imaginação e criatividade, bastante planeamento e muita reutilização, é fácil ter um Natal mais sustentável e poupar algum dinheiro sem deixar de surpreender a família ou os amigos.  

E usar também estas dicas o ano todo, porque se o Natal é quando o Homem quiser, a poupança, a sustentabilidade e a entreajuda também.

casal a dar um abraço com um presente de natal na mão