Um milhão. É um número que não deixa ninguém indiferente, e mais ainda se estivermos a falar do número de espécies de plantas e animais que podem desaparecer ou ficar seriamente ameaçadas nas próximas décadas, segundo um relatório divulgado pela ONU, em 2019.
E importa salientar que esse milhão significa 12,5% de todos os tipos de seres vivos, que estão estimados em oito milhões de espécies. A Biodiversidade é o que melhor sustenta o equilíbrio dos ecossistemas e do planeta em geral, sendo crítica para a sustentabilidade, sendo por isso importante reforçá-la.
Os alertas sobre a redução das espécies já têm décadas e a ONU inscreveu a Biodiversidade nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030. Proteger a Vida Terrestre é o 15º ODS, que tem como meta geral “gerir as florestas de forma sustentável, combater a desertificação, travar e inverter a degradação da terra e impedir a perda de Biodiversidade”. Não basta focar nos ursos polares, no panda gigante ou no rinoceronte. A preocupação com os seres vivos deve ser transversal a todos os continentes e a todas as espécies, animais ou vegetais, uma vez que, em qualquer país, existem ameaças de extinção e degradação do meio ambiente.
A Biodiversidade é um desafio de todos
Se todos os seres vivos têm a sua função, resultado de uma evolução de milhões de anos na adaptação a habitats, clima, predadores ou presas, a Biodiversidade é como um castelo de cartas que depende da estabilidade de todos os elementos. As causas do declínio dos ecossistemas e da vida animal estão bem identificadas e são resultado quase exclusivo da ação humana: redução de florestas; alteração dos usos dos solos; introdução de espécies animais ou vegetais invasoras; poluição; alterações climáticas; utilização em excesso dos recursos naturais; expansão urbana e de vias de comunicação.
Mas as soluções também estão encontradas, e passam essencialmente pelo reforço da... Biodiversidade. Proteger a natureza é, também, tentar transportá-la para patamares do passado, apostando na reflorestação e diversificação das árvores e plantas e no controlo das espécies invasoras - animais ou plantas -, para benefício das que já existiam naquele local. Programas de reintrodução ou recuperação de espécies, como o lince ibérico ou lobo ibérico, em Portugal, ajudam a reencontrar o equilíbrio dos ecossistemas. A EDP está comprometida a vários níveis e com vários projetos de preservação da Biodiversidade. Importa ainda que, cada vez mais, as pessoas adiram e apoiem estes programas, nacionais e internacionais, e as mentalidades mudem do lado de quem ainda prejudica a Biodiversidade.
Para cumprir o ODS 15 e Proteger a Vida Terrestre, a ONU resume várias sugestões presentes no relatório do IPBES, decisões políticas e mudanças na sociedade em geral que são necessárias para a Biodiversidade, mas também para o combate às alterações climáticas:
Agricultura. Promover boas práticas agrícolas; fazer um planeamento multifuncional dos terrenos, com gestão integrada; promoção da sustentabilidade alimentar junto dos produtores, entidades públicas e consumidores; conservação da diversidade genética de variedades agrícolas ou raças de animais; reforço da transparência; melhorias na distribuição de alimentos que ajudem as economias locais; reforma das cadeias de transporte e redução do desperdício alimentar.
Ambientes marinhos. Gestão de pescas mais voltada para os ecossistemas; planeamento espacial e melhor definição de quotas; criação de mais áreas protegidas, principalmente zonas-chave para a Biodiversidade; redução da poluição que chega aos oceanos.
Ambientes de água doce. Gestão e governação colaborativa da água, com mais inclusão e equidade; melhor integração da gestão de recursos hídricos e do planeamento do território; combate à erosão dos solos, sedimentação e poluição; melhorias no armazenamento de água; regulação da água através de políticas menos fragmentadas.
Zonas urbanas. Promoção de soluções baseadas na natureza; melhoria do acesso a serviços públicos e um melhor ambiente urbano em comunidades desfavorecidas; acesso facilitado a espaços verdes; produção e consumo sustentável nas zonas urbanas, privilegiando as espécies nativas.
Transversal. Reforço da participação das populações indígenas e das comunidades locais na definição de políticas, reformas e incentivos, que dêem prioridade à Biodiversidade. Os povos indígenas e as comunidades mais rurais representam apenas 5% da população mundial, mas ‘gerem’ 25% da superfície terrestre, 35% das áreas protegidas e 35% das regiões com pouca presença humana. Apesar de também estarem ameaçadas, o declínio da Biodiversidade é menor nestas zonas.
Em outubro de 2021, a cidade chinesa de Kunming recebe várias reuniões da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), um ano depois do previsto, devido à pandemia. O tratado internacional - promovido pelas Nações Unidas em 1992 - já foi assinado por perto de 200 países e pretende promover a conservação da Biodiversidade, o uso sustentável da Biodiversidade e a partilha justa dos benefícios da utilização dos recursos. Este ano, entre 11 e 24 de outubro, espera-se que sejam dados passos no sentido de garantir a proteção de 30% da superfície terrestre e dos mares. Neste momento, as áreas protegidas representam cerca de 15% da terra e 8% dos oceanos.
Abelhas: a Biodiversidade nas patas de um inseto
De entre todos os seres vivos que habitam os continentes, nenhum terá tanta importância para os restantes - plantas, animais ou seres humanos - como as abelhas. Não são os únicos polinizadores, mas a sua presença em quase todos os recantos do mundo - 25 mil a 30 mil espécies, segundo a ONU - faz das abelhas os mais eficazes na tarefa de garantir a fecundação das flores. Traças, borboletas, vespas, morcegos, roedores e até macacos são também responsáveis por polinizar plantas, mas a uma escala menor.
O papel das abelhas ganha ainda mais relevo quando combinado com as mudanças na agricultura. Mais de 75% dos alimentos vegetais que consumimos dependem da polinização, mas as abelhas estão cada vez mais ameaçadas pela poluição, perda de diversidade das plantas e flores disponíveis, predação por outros insetos invasores e mesmo doenças e parasitas.
Proteger as abelhas e outros animais polinizadores é aumentar a resiliência das plantas, principalmente dos frutos, legumes ou vegetais que consumimos, e é também uma forma de ajudar os pequenos produtores agrícolas - os que mais apostam na diversidade de culturas - e de combater a fome em geral.
Selos de qualidade para apelar à consciência
Para chamar cada vez mais à atenção para a Biodiversidade, organizações como a ONU e outras instituições mundiais ou regionais, promovem cada vez mais ‘dias’ que são dedicados a estes assuntos. 22 de maio, por exemplo, é o Dia Internacional da Biodiversidade, comemorado nesta data desde o ano 2000. E, 3 de março, é o Dia Mundial da Vida Selvagem, que foi criado pela ONU em 2013.
Outra forma - também do lado das empresas - de promover e apelar para a sustentabilidade e a um consumo mais consciente é através da criação ou associação a selos de qualidade e certificações internacionais. Hoje em dia é difícil percorrer as prateleiras de um supermercado e não encontrar um ou mais produtos que apresentem um selo de qualidade nesse sentido, seja de proteção das florestas, dos animais selvagens, dos golfinhos e vida marinha, ou dos oceanos em geral. Associações como a Rainforest Alliance, o Marine Stewardship Council, e o Forest Stewardship Council promovem alguns dos selos mais reconhecidos.
A Biodiversidade deve ser um objetivo para todos. É um ciclo que devemos ajudar a fortalecer, pois dela depende a nossa existência e a do próprio planeta. Garantir a Biodiversidade tem efeitos positivos no clima, no combate à desertificação e degradação dos terrenos, na redução de poluentes, na melhoria da produtividade agrícola e florestal, na resistência a incêndios, na sustentabilidade da vida marinha. Promover a Biodiversidade ajuda a melhorar o bem-estar e as condições de vida de todos, seja numa pequena aldeia escondida na montanha ou numa enorme cidade costeira.