O futuro do trabalho está a ser desenhado e há novas carreiras e novas competências com foco na sustentabilidade. Descubra quais são.
Shakespeare disse: “Sabemos o que somos, mas não sabemos o que poderemos ser”. O imortal bardo que nos perdoe discordarmos. No início deste desafiante século XXI, em matéria de emprego, temos já informação sólida que nos permite saber o que poderemos ser e fazermos as escolhas certas.
Embora nem sempre pensemos nisto, os empregos e as empresas estão intrinsecamente ligados ao estado de saúde do nosso planeta. As alterações climáticas têm afetado muitos setores de atividade de forma irremediável. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) da ONU prevê que os recentes esforços para reverter as alterações climáticas, e reduzir as emissões de dióxido de carbono, poderão levar ao desaparecimento de 6 milhões de empregos, em todo o mundo, nos setores relacionados com o petróleo, gás e outros combustíveis fósseis. No entanto, nem tudo são más notícias. A mesma organização acredita que a economia verde irá gerar 24 milhões de empregos, em todo o mundo, até 2030.
Green is the new black
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, também conhecidos como Objetivos Globais, são um alerta universal para ação contra a pobreza, a proteção do planeta e para garantir que todas as pessoas tenham paz e prosperidade. O Objetivo Global 8 estabelece a promoção do crescimento económico sustentado, inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos. Para o alcançar, em muito vão contribuir os empregos verdes.
O Bureau of Labour Statistics publicou, em 2010, a definição base de “empregos verdes” (que tem vindo a ser comummente adotada, em diversos relatórios sobre estas matérias): “empregos em áreas de negócio que produzem bens ou fornecem serviços que representem vantagens para o ambiente ou que contribuem para a conservação dos recursos naturais; ou trabalhos em que um dos deveres do trabalhador passa por tornar o processo de produção mais amigo do ambiente ou por usar menos recursos”.
As competências do futuro
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente divulgou o GEO-6 for Youth, um guia digital que, entre outras matérias, reflete sobre as competências que quem pretende seguir uma carreira num setor verde deve desenvolver. A tecnologia estará, seguramente, na base de tudo. Destacamos 6 áreas que poderão desempenhar um papel determinante num futuro próximo, mais amigo do planeta.
1. Agricultura
De acordo com o relatório publicado em 2022 pelo Organic Farming Research Institute (FiBL), a venda de alimentos e bebidas orgânicos aumentou 15% globalmente. À medida que a agricultura e o abastecimento de alimentos se tornam mais sustentáveis, haverá um número crescente de empregos verdes em áreas como a agricultura orgânica, a agricultura urbana e a agricultura de precisão.
A agricultura urbana ou vertical usa uma combinação de arquitetura inovadora e a mais recente tecnologia agrícola, incluindo, muitas vezes, a Inteligência Artificial (IA), para cultivar nas cidades. É amiga do meio ambiente na medida em que utiliza menos terra e água, reduz o uso de pesticidas e poupa combustível, ao encurtar a cadeia de abastecimento alimentar.
Jardins em telhados são também excelentes aliados para isolar os edifícios, absorvendo chuvas fortes e melhorando a qualidade do ar. Engane-se se isto lhe parece um cenário futurista: de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (UNFAO), a agricultura urbana já é praticada por mais de 800 milhões de pessoas por todo o mundo.
2. Arquitetura e construção
A indústria da construção continua a ser uma das principais responsáveis pela poluição mundial. De acordo com a ONU, o setor é responsável por 38% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2). No entanto, a crescente utilização de materiais naturais e ecologicamente recomendados e a adoção de novos métodos de construção, apoiados por nova legislação, podem reduzir as emissões de CO2 dos (novos) edifícios verdes até 84 gigatoneladas, até 2050.
A tecnologia inteligente ajudará as pessoas a utilizarem calor, luz e outros recursos de forma mais eficiente. Construir as casas e escritórios mais verdes do futuro (e adaptar os antigos para atender às atuais e futuras exigências) exigirá centenas de funções especializadas. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê 6,5 milhões de empregos na área da construção sustentável até 2030, tornando-se o segundo setor de crescimento mais rápido, apenas ultrapassado pelo setor da energia verde.
3. Energias renováveis
O setor das energias renováveis – hidrelétricas, biocombustíveis, turbinas eólicas, transporte limpo (onde se incluem os veículos elétricos), tem vindo a crescer consideravelmente, gerando um enorme volume de novos empregos. A energia solar, por exemplo, é responsável por 3,8 milhões de empregos em todo o mundo, de acordo com a IRENA.
4. Sustentabilidade empresarial
Os empregos verdes do futuro não vão surgir apenas em setores sustentáveis. Todas as empresas têm agora um papel a desempenhar, nomeadamente na transformação de modelos de negócios. Isto exigirá pessoas com competências para apoiar na transição necessária.
5. Transportes
Cerca de 14 milhões de europeus trabalham na indústria automóvel. O aumento da procura de carros elétricos representa, para os fabricantes, uma oportunidade importante para efetuarem a transição para modelos menos prejudiciais ao meio ambiente.
6. Ciência e engenharia
As competências científicas são fundamentais para ajudar a mitigar os efeitos das alterações climáticas, desacelerar o aquecimento global e melhorar a qualidade de vida das pessoas e do planeta.
Upskilling e reskilling
De acordo com o LinkedIn Global Green Skills Report 2022, a procura de talentos verdes aumentou mais de 38% desde 2015. No entanto, para já, ainda supera a oferta. Termos como upskilling, que designa o desenvolvimento de competências na área de atividade em que já trabalhamos; e reskilling, que designa o desenvolvimento de competências novas, tendo em vista a requalificação, estão, por isso, na ordem do dia.
No Relatório sobre o Futuro do Emprego 2020, o Fórum Económico Mundial também conclui que as lacunas nas competências necessárias continuarão elevadas até 2025, à medida que as competências exigidas por todos os empregos sofrerão alterações. Pensamento crítico, capacidade de resolução de problemas e autogestão e resiliência, estarão entre as mais procuradas.
As empresas citadas no relatório acreditam que cerca de 40% dos trabalhadores precisarão de requalificação e 94% dos líderes empresariais esperam que os funcionários adquiram novas competências.